quinta-feira, 9 de março de 2017

O campo magnético da Terra pode se inverter em cem anos

Espaço

Enfraquecimento dos polos pode deixar o planeta mais vulnerável às tempestades solares

PUBLICADO EM 09/03/17 - 03h00
As características de composição e movimentação da Terra permitem aos cientistas compararem o planeta a um grande ímã, que funciona como um escudo invisível nos protegendo das radiações vindas do universo. Mas novos estudos constataram que esse campo magnético natural da Terra está perdendo, aos poucos, sua estabilidade, de forma que as consequências poderiam ser devastadoras, interferindo não só na saúde, mas em todos os tipos de tecnologia utilizadas.
Depois de analisar os sedimentos de um antigo lago na bacia Sulmona dos Apeninos, na Itália, e estudar os vestígios que esses acontecimentos costumam deixar nas rochas, cientistas das Universidades da Califórnia e de Columbia foram capazes de cravar que a última inversão magnética aconteceu há 786 mil anos.
O professor de geologia e um dos coautores do estudo World Paul Renne disse em entrevista à BBC, em 2014, que a Terra está passando por um enfraquecimento de seu campo magnético, dez vezes mais rápido do que o habitual.
Os cientistas já sabiam que os polos magnéticos trocaram de posições 36 vezes em 23 milhões de anos ao longo da história terrestre e o farão outras vezes mais. Porém, esse processo não acontece da noite para o dia. E, enquanto se dá o processo, a Terra vive um período de instabilidade. Até então, acreditava-se que esse período durava de 2.000 a 5.000 anos, mas esses pesquisadores chegaram à conclusão de que esse evento durou apenas cem anos.
O diretor da Uber Trends, PhD em física, Aba Cohen, explica que é por meio da movimentação das ligas metálicas em diferentes estados, pastoso e líquido, que compõem o interior da Terra, e as correntes elétricas que esse movimento provoca, que surge esse campo magnético. Atualmente, é no norte geográfico que se encontra o sul magnético e vice-versa. Enquanto os polos geográficos são uma convenção humana, os polos magnéticos são consequência de um fenômeno natural.
Mudança. A Terra começou a se consolidar há cerca de cinco bilhões de anos, e os cientistas estimam que o campo magnético exista há pelo menos 3 bilhões de anos, sendo que ao longo do tempo ele mudou sua intensidade, sua orientação e sofreu variações de polaridade, de acordo com o presidente da Sociedade Brasileira de Geofísica, Jorge Hildebrand.
Ele não acredita que tal transformação aconteceria em tão pouco tempo, mas afirma que existe, sim preocupação. “A magnetosfera se enfraqueceu 6,4% em cem anos. Se essa redução continuar, em um prazo de 2.000 anos estaria zerado, ou seja, a Terra perderia seu escudo protetor, e o equilíbrio do planeta estaria ameaçado”, afirma.
Essa redução estaria diretamente associada ao processo de inversão dos polos. “À medida que perde intensidade, o campo magnético vai se desfazendo, e, depois da mudança de polaridade, começa um novo ciclo”, diz Hildebrand.
Segundo ele, nas regiões polares, a intensidade do campo pode chegar a 90 mil nT (nanotesla é a unidade usada para medir a densidade de fluxo magnético). No Brasil, Estados como Paraná e Santa Catarina registram 22 nT.
Por causa desse fenômeno conhecido por Anomalia Magnética do Atlântico Sul, nessas regiões os níveis de radiação são mais elevados, podendo ocorrer mais problemas na transmissão de energia elétrica e casos de câncer de pele.
Essa falta de proteção contra as ameaças do espaço, como explosões solares e radiações, poderia afetar também os animais, os oceanos, o clima, as usinas geradoras de energia, os centros de comunicação. Ou seja, com o mundo cada vez mais dependente da tecnologia e, consequentemente, da eletricidade, o caos seria inimaginável.
Em 1989, uma tempestade solar gerou correntes elétricas e paralisou completamente uma rede elétrica em Quebec, no Canadá. A pane deixou seis milhões de pessoas no escuro por 12 horas, e metrôs, aeroportos e abastecimentos ficaram comprometidos.
Aurora boreal
Entenda. As partículas que atingem o planeta são desviadas para os polos da Terra, dando origem ao bonito fenômeno das auroras boreais.

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