segunda-feira, 6 de junho de 2016

Governador do Amazonas usou Polícia Militar para pressionar eleitores

Segundo reportagem do 'Fantástico', conversas grampeadas pela PF mostram como a cúpula da corporação atuou para ajudar José Melo (Pros) a ser reeleito no Estado

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O governador do estado do Amazonas reeleito, José Melo (PROS)
O governador do Estado do Amazonas, José Melo (PROS)(Edmar Barros/Estadão Conteúdo)
A Polícia Federal investiga o governador do Amazonas, José Melo (Pros), por ter usado a Polícia Militar para pressionar eleitores a votarem nele. Melo foi reeleito em outubro de 2014 após disputa acirrada com o senador Eduardo Braga (PMDB). Em reportagem do Fantástico, da TV Globo, áudios interceptados pela Polícia Federal mostram como a cúpula da corporação atuava para favorecer o governador.
Segundo a PF, o coronel da PM dos Amazonas Marcos James Frota era um dos responsáveis para garantir a reeleição do governador. Em um diálogo com um policial militar que diz ter prendido "dois caminhões cheios de gente para votar no 15 [número do candidato opositor, Eduardo Braga, do PMDB]", o coronel ordena: "Joga tudo fora, tudo dentro d'água, esse bando de 'filho de uma égua'". Em outra conversa, Frota avisa ao policial que o ônibus apreendido "é nosso", referindo-se aos eleitores que votariam em José Melo.
"Não é algo de uma maçã podre, apenas um policial. Era o alto escalão da Polícia Militar que era utilizada de forma veemente, deliberada em favor da candidatura", afirmou procurador regional eleitoral Victor Riccely Lins Santos, do Ministério Público Federal.
Um oficial ouvido pela reportagem em condição de anonimato afirmou que a corporação havia recebido a missão de "reverter o resultado" da eleição - Braga havia ganhado por margem apertada o primeiro turno do pleito. Segundo o agente, a PM oferecia caronas e distribuía santinhos para pessoas mais carentes na hora de votar. Também usavam de táticas de intimidação, dizendo que, se Melo não ganhasse, a polícia abandonaria a comunidade. "A pesquisa eleitoral era o que definia o policiamento. A gente trabalhava nos municípios e nos bairros onde o governador não estava bem nas pesquisas", relatou o policial.
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Em outubro do ano passado, quase um ano após as eleições estaduais, o coronel Marcos James Frota foi promovido a comandante geral da Polícia Militar do Amazonas. No mês passado, após as denúncias, ele pediu afastamento do cargo - mas continua com todas as regalias da função. Ele e outros cinco coronéis da PM foram indiciados pela Polícia Federal por compra de votos e associação criminosa. Os outros coronéis são: Raimundo Roosevelt; Everton Souza da Cruz; Berilo Bernardino; Marcos Brandão da Cunha; e Paulo Roberto Vital. A investigação da PF foi repassada à Justiça Eleitoral e ao Superior Tribunal de Justiça.
No ano passado, o Fantástico já havia denunciado um esquema de compra de votos da campanha do governador José Melo. Ele foi julgado, condenado e cassado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas. O governador, no entanto, recorreu da decisão e continua no cargo até uma decisão final ser tomada pelo Tribunal Superior Eleitoral.
Em nota, a assessoria de imprensa do governador José Melo afirmou ao programa que ele "jamais teve conhecimento de qualquer ilegalidade".

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