sexta-feira, 24 de junho de 2016

Gleisi Hoffmann critica prisão do marido

Declaração

Em nota, senadora disse que objetivo da operação é desviar o foco do atual governo interino; parlamentar também questionou motivos para que ação fosse feita neste momento


PUBLICADO EM 24/06/16 - 03h00- O Tempo
Brasília. A senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) afirmou ontem que a operação Custo Brasil, que levou à prisão de seu marido, o ex-ministro Paulo Bernardo, em seu apartamento, em Brasília, foi realizada pela Polícia Federal para o “desvio de foco da opinião pública deste governo claramente envolvido em desvios”, em alusão ao presidente interino Michel Temer (PMDB).

Em uma nota em tom pessoal, a senadora disse que “garantir o impeachment” é tudo o que “mais interessa neste momento” ao atual governo.

No texto, publicado em sua página no Facebook e lido no plenário do Senado pela senadora Fátima Bezerra (PT-RN), Gleisi contou parte das ações da polícia em sua casa e diz que foi um dia “muito triste” em sua vida “como mulher, como política e, sobretudo, como mãe”.

Gleisi também saiu em defesa de Paulo Bernardo e disse que o marido foi injustiçado com a prisão. “Conheço o pai dos meus filhos. Sei das suas qualidades e do que não faria, por isso, sei da injustiça que sofreu nesta manhã (ontem). Mais de dez pessoas estranhas entraram em minha casa com ordem de busca e apreensão. Trouxeram também uma ordem de prisão preventiva contra o Paulo”, escreveu.

A petista afirmou que seu marido sempre esteve à disposição da Justiça e questionou então os motivos para que a operação fosse deflagrada neste momento, já que o processo contra Paulo Bernardo foi iniciado há mais de um ano. “Prisão preventiva para prevenir o quê? Uma fuga? Um conluio? Qual risco representa ele?”, questionou.

“Desde que esse processo começou, Paulo se colocou inúmeras vezes à disposição da Justiça, sempre esteve totalmente disponível, tem endereço conhecido. Vieram coercitivamente buscá-lo em casa, na presença de nossos filhos menores. Um desrespeito humano sem tamanho, desnecessário. Não havia nada em nossa casa que poderia ser levado. Mesmo assim, levaram o computador do meu filho adolescente. Fiquei olhando meu menino e pensei sobre a dor que sentia com aquela situação”, disse.

“Quem nos conhece sabe que não fizemos fortuna, não temos conta no exterior. Levamos uma vida confortável, porém modesta. O patrimônio que temos, parte financiado, foi comprado com nossos salários”, completou.

A senadora deveria ter participado ontem da reunião da Comissão Especial do Impeachment, em curso no Senado, mas não compareceu. Ela estava em casa no momento em que a Polícia Federal chegou ao seu apartamento e lá permaneceu por quase o dia todo.

Na comissão, a ausência de Gleisi Hoffmann não interferiu na abertura dos trabalhos e no seguimento da sessão, já que a senadora, que é parte da tropa de choque de Dilma Rousseff, já havia deixado de participar de outras reuniões ao longo da semana em razão de compromissos fora do Senado.
Ação alivia pressão sobre Michel Temer
Brasília. Na avaliação de assessores presidenciais, a prisão de Paulo Bernardo, ex-ministro da presidente afastada Dilma Rousseff, alivia parte da pressão que o governo interino de Michel Temer vem sofrendo e melhora o clima no Palácio do Planalto.

Apesar de lamentarem a prisão – já que Paulo Bernardo é visto como uma voz moderada dentro do PT e disposto a dialogar –, os assessores destacaram que a ação causou fragilização na tropa de choque de Dilma na Comissão Especial do Impeachment no Senado, já que a mulher de Paulo Bernardo, Gleisi Hoffmann (PT-PR) é uma das vozes mais ativas contra a saída da presidente afastada, protagonizando debates e defendendo a narrativa de que o processo é um golpe de estado.

Agora, dizem os assessores, Gleisi terá que se dividir entre os debates sobre o processo e a defesa pessoal e de seu marido.

Já o presidente interino, Michel Temer, rebateu as acusações de que a prisão de Paulo Bernardo teria sido influenciada por seu governo e ressaltou que não há a “menor possibilidade” de interferência na Lava Jato. Ele garantiu que o Poder Executivo não irá invadir a competência do Poder Judiciário.

O peemedebista afirmou que a gestão interina sempre dará apoio verbal às investigações e que, pelo princípio da separação das atividades governamentais, o Poder Executivo não deve se envolver no assunto.

“Não haverá a menor possibilidade de interferência na Lava Jato. Ao contrário, o que deve haver sempre é o apoio, mas um apoio verbal, não de ação. Colocar o Poder executivo trabalhando nessa matéria seria a invasão de uma competência que é, na verdade, do Judiciário”, disse.
Dilma
Espera. A presidente afastada Dilma Rousseff estaria querendo saber o “fundamento” da prisão preventiva de seu ex-ministro das Comunicações antes de sair em defesa dele.
Lindbergh defende senadora
Brasília. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) afirmou que a prisão de Paulo Bernardo ontem teve o objetivo de atingir a mulher do ex-ministro, a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

“Fizeram para atingi-la, sabiam que se tivessem que envolvê-la, teriam que passar pelo Supremo Tribunal Federal. Estou desconfiadíssimo das motivações políticas desse caso”, disse.

“É difícil pensar numa pessoa mais honesta e íntegra do que a Gleisi Hoffmann aqui no Senado. Ela não tem conta no exterior, não tem nada com isso”, ressaltou.

Segundo o senador, um dos intuitos da operação da Polícia Federal, batizada de Custo Brasil, que prendeu Bernardo, é enfraquecer a base de apoio de Dilma no processo de impeachment. Gleisi integra a comissão especial sobre o tema na Casa.

Lindbergh Farias avisou que ela não deixará o colegiado. “Não vamos mudar em nada a nossa linha. A senadora Gleisi vai voltar aqui, é uma das nossas principais pessoas. Mas acho que há um claro intuito de constranger, porque essa operação Custo Brasil é um espetáculo que foi feito, é um processo de criminalização da política”, disse o senador.

Farias disse que a bancada do PT manterá a sua atuação. “Nossa postura aqui não muda um centímetro. Quem acha que a gente vai baixar o tom aqui está muito enganado”.
‘Interferência é lenda urbana’
Brasília. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, afirmou ontem que “não é possível” que nenhum governo interfira no andamento da operação Lava Jato. “Isso de que poderia haver interferência de governo ou que essas investigações dependeram da boa vontade ou não de governo é uma lenda urbana”, disparou.

Ele reforçou que as instituições brasileiras são independentes, citando o Ministério Público e a Polícia Federal.
Ministro acusa governo anterior
Acusação. O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou ontem que o governo da presidente afastada Dilma Rousseff “jamais apoiou institucionalmente a Lava Jato”, que investiga um esquema de corrupção envolvendo desvios da Petrobras.

Influência. Moraes deu as declarações ao comentar uma possível influência entre sua visita à força-tarefa de Curitiba e a operação de ontem, que prendeu o ex-ministro petista Paulo Bernardo. “Não há nenhuma relação com a minha visita, que foi institucional. O governo anterior jamais apoiou a operação, porque jamais apoiou o combate à corrupção”, disse.

Rebate. A declaração foi rebatida pelo ex-ministro da Justiça José Eduardo Cardozo. “Moraes poderia ouvir os áudios em que pessoas, lideranças, falam exatamente que Dilma tinha que sair porque a sangria tinha que parar”.

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