quinta-feira, 23 de junho de 2016

Depoimento de Valério cita tucanos ligados a Aécio

Orion Teixeira / 23/06/2016 - 06h00- Hoje em Dia
Orion Teixeira Orion Teixeira é jornalista político. Escreve de terça-feira a domingo neste espaço.
O vazamento das primeiras informações sobre o depoimento do ex-empresário e ex-publicitário Marcos Valério deixou o meio político em polvorosa, especialmente o ninho tucano e aliados. Para muitos, o desgaste maior é o da reputação já que, judicialmente, as eventuais acusações já teriam perdido a validade, referindo-se a fatos ocorridos em 1998. Ainda assim, Valério terá que provar e sustentar o que disse antes que sua intenção vire delação aceita pelo Ministério Público e homologada pela Justiça estadual.
Em sua intenção, ele citou cerca de 20 pessoas, entre elas vários tucanos ligados, direta ou indiretamente, ao senador Aécio Neves (presidente nacional do PSDB), como seu ex-secretário de Governo Danilo de Castro e sua irmã, Andrea, e o ex-presidente da Assembleia Legislativa Mauri Torres (hoje conselheiro do Tribunal de Contas de Minas). E há erros no depoimento, como incluir o nome do ex-presidente da mesma Assembleia Dinis Pinheiro (PP), que não era filiado ao PSDB à época.
“Não tenho nenhum envolvimento com Marcos Valério e nem o conheço. Ele não me citou, mas se o fizer é porque é mais bandido do que já é. E se me envolver, vou processá-lo”, avisou Pinheiro, desafiando-o a apontar o envolvimento de seu nome no esquema que ficou conhecido como mensalão do PSDB mineiro, criado por Valério para financiar a frustrada campanha de reeleição do ex-governador Eduardo Azeredo, em 1998.
Danilo de Castro e Mauri Torres não foram localizados. Andrea Neves também não se manifestou. Os nomes de Danilo e de Mauri Torres já tinham sido denunciados por Valério à época da CPI dos Correios e a do Mensalão do PT, em 2006, vinculando-os a empréstimos junto ao Banco Rural, núcleo financeiro do esquema. Apesar das denúncias, Valério não apresentou as provas, razão pela qual o Ministério Público está cauteloso com sua boa intenção em receber, somente agora, benefícios penais.
A intenção dos promotores é checar as informações com os ex-sócios de Valério nas agências SMP&B e DNA, Cristiano Paz e Ramon Hollerbach, igualmente condenados, mas a pena de 20 anos em média, por terem participado de todas as operações das duas empresas. Valério já tem condenação a 37 anos pelo mensalão do PT e é réu nesse outro processo (mensalão tucano), que já tramita há mais de 10 anos na Justiça mineira.
Até o momento, apenas o ex-governador Eduardo Azeredo foi condenado, em primeira instância, a 20 anos, mas recorre à segunda instância em liberdade. Valério pretende reduzir sua pena ou, pelo menos, trocar de penitenciária. Hoje, ele está detido na Nelson Hungria (Contagem) e pede transferência para o modelo apaquiano (Associação de Proteção e Assistência aos Condenados – Apac) em Santa Luiza, também na Grande BH.
Valério se sentiu estimulado a tentar nova delação depois que o ex-senador petista Delcídio Amaral fez a sua, citando o senador Aécio Neves. De acordo com o ex-petista, o tucano, na época governador, teria participado de suposta maquiagem em dados do Banco Rural. Embora tenha sido presidente da CPI dos Correios, Amaral não conseguiu comprovar a denúncia. Seus advogados, então, teriam estimulado Valério a abrir o bico.

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