quinta-feira, 16 de junho de 2016

A cada 45 minutos, uma pessoa se suicida no país

Alerta

Belo Horizonte sedia até sábado congresso que irá romper tabus e debater prevenção

PUBLICADO EM 16/06/16 - 03h00
Para algumas pessoas, viver torna-se um fardo tão pesado e angustiante que a morte se torna a única saída para uma situação de sofrimento intolerável. Esse sentimento tem feito com que no Brasil, em média, três pessoas tentem se matar a cada 45 minutos. No mesmo intervalo de tempo, uma delas consegue, de fato, dar fim à própria vida.
Os dados, que para a psicóloga Daniela Reis e Silva podem estar subnotificados, são ainda mais estarrecedores em nível mundial: mais de 800 mil pessoas cometem suicídio por ano, número que representa uma morte a cada 40 segundos, segundo o relatório sobre prevenção ao suicídio da Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgado em 2015.
“Mais de 90% dos suicídios e tentativas têm associação com transtornos psiquiátricos, bem como o uso de álcool e drogas, o que faz dessa situação um problema de saúde pública. É preciso promover ações para prevenção e tratamento no campo da saúde mental”, afirma Daniela.
Apesar de os índices serem maiores entre os idosos, quando as perdas e o isolamento se tornam mais frequentes, a faixa etária em que o suicídio mais cresce no país é a dos jovens, entre os 14 e os 30 anos, de acordo com Robert Paris, presidente do Centro de Valorização da Vida (CVV) – serviço gratuito para apoio emocional e prevenção do suicídio sob total sigilo, disponível 24 horas todos os dias, por telefone (número 141), e-mail, chat e Skype.
Com base em sua atuação como voluntário há mais de 20 anos, Paris relata perceber que a pessoa emite alguns sinais, e os motivos que podem levá-la a tirar a própria vida são os mais variados, de doenças mentais a aspectos sociais e psicológicos. “Quando a conjuntura econômica ou do país ou alguma outra coisa mexe com o humor, sem dúvida faz com que a pessoa fique mais defensiva, necessitada de conversar e de se conectar”, observa.
Segundo Paris, a chave para prevenir casos é uma abordagem multissetorial abrangente (envolvimento de profissionais de saúde, familiares etc.) que evite a todo custo o isolamento. “Se a pessoa tiver tendência ao isolamento, coloque-se à disposição para conversar e estar perto, ouvir o que está acontecendo”, diz.
É preciso ficar atento a mudanças de comportamento e situações de irritabilidade, principalmente quando se tornam frequentes. Subestimar o problema, não querer falar sobre o assunto e “deixar a pessoa no canto dela” podem agravar a situação. “Falar sobre os sentimentos pode trazer um alívio imediato”, afirma Paris.
Especialistas. Para derrubar diversos mitos e tabus que ainda cercam o assunto, a Associação Brasileira de Estudos e Prevenção do Suicídio (Abeps) promove, de hoje até sábado, em Belo Horizonte, o I Congresso Brasileiro de Prevenção do Suicídio e o I Encontro Nacional de Sobreviventes do Suicídio.
O congresso é aberto ao público e será realizado no Centro de Convenções da Associação Médica de Minas Gerais (Av. João Pinheiro, 161 – Centro). Mais informações: www.psiquiatria2016.com.br e www.abeps.org.br

Ferramenta pode ajudar na prevenção

O já conhecido poder de reação dos usuários nas redes sociais vai começar a ser usado também para tentar ajudar prevenir os casos de suicídio no Brasil e no mundo.
O Facebook, em parceria com o Centro de Valorização da Vida (CVV), começou a disponibilizar nessa semana uma nova ferramenta que permite aos usuários emitirem sinais de alerta quando perceberem que um amigo publicou um conteúdo com tendência ao suicídio e permite que os amigos possam intervir.
Portanto, caso note um comportamento estranho, o usuário deverá denunciar a publicação entrando na opção “Acredito que não deveria estar no Facebook”, depois “Ver mais opções”, e em seguida “Mostra alguém se ferindo ou planejando se ferir”. Com a publicação denunciada, a rede social facilita o contato com o CVV e dá dicas do que fazer para se sentir melhor e oferecer ajuda. (LM)
Dados da OMS
Países. Cerca de 75% dos casos de suicídios ocorrem em países de baixa e média rendas.
Local. O Brasil é o oitavo país com mais suicídios – 11.821 casos em 2012. A Índia ocupa o primeiro lugar, com 258 mil casos.
Guerras. Há mais mortes por suicídio do que por guerras e homicídio juntos.
Meios. Os métodos mais usados globalmente são uso de pesticidas, armas de fogo e enforcamento.
Marca. A cada suicídio, 20 pessoas são impactadas pelo resto de suas vidas.

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