sexta-feira, 6 de maio de 2016

Pimentel é chefe de quadrilha e recebeu R$ 1 mi em propina, diz Polícia Federal

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Em relatório final da operação Acrônimo, Polícia Federal afirma que governador de Minas usou um operador e empresas de fachadas para receber propina e ganhar viagens em troca de favores

FILIPE COUTINHO- Época
06/05/2016 - 15h01 - Atualizado 06/05/2016 15h15
O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel (PT), é acusado pela Polícia Federal de coordenar um esquema de lobby e ganhar R$ 1 milhão em propinas no período que chefiou o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, durante o primeiro mandato do governo Dilma.
As acusações constam do primeiro relatório final da Polícia Federal na operação Acrônimo, produzido no dia 29 de abril. Nesse documento, a PF informa ao Superior Tribunal de Justiça que Pimentel usou seu cargo para dar benefícios fiscais à montadora Caoa (Hyundai) e, com isso, ganhou propina. Pimentel foi indiciado pela PF.
>>Os R$ 2 milhões da montadora Caoa para o operador de Pimentel
Pimentel também é investigado por tráfico de influência no BNDES, mas essa frente de investigação constará de outro relatório, ainda em fase de elaboração. Na operação Acrônimo, a PF fez o caminho do dinheiro e concluiu que Pimentel usava um operador para lavar dinheiro. Trata-se do empresário Benedito de Oliveira Neto, o Bené. Ele foi preso pela PF porque apresentou consultorias com claros indícios de fraude. Atualmente, ele negocia uma delação premiada. “Tal organização criminosa é coordenada e integrada por Fernando Pimentel que, em razão de seu cargo, facilitou a atuação de outros integrantes do grupo criminoso, ora usando sua influencia política junto ao MDIC para favorecer a atender aos interesses do grupo”, escreve a PF no relatório.
Benedito Oliveira (Foto: André Coelho/ Agência O Globo)
De acordo com a investigação, a Caoa pagou R$ 2 milhões a duas empresas de fachada de Bené _ como foi revelado por ÉPOCA no ano passado. Bené, por sua vez, foi flagrado em mensagens de texto atuando em favor da Caoa junto ao Ministério do Desenvolvimento. A justificativa do dinheiro, contudo, eram consultorias, o que para a PF na verdade é uma fraude. Enquanto a Caoa enviava dinheiro para as empresas de Bené, o empresário custeava despesas de Pimentel.
Segundo a PF, os pagamentos de Bené a Pimentel são, na verdade, propina. Os valores iam desde hospedagem em hotéis de luxo a faturas de condomínio de apartamento e cartão de crédito, além de sucessivos fretamentos de jatinhos. Como ÉPOCA já revelou, Bené pagou Pimentel viagem a Miami e feriado na Bahia. No total, a PF mapeou R$ 1.106.401,50.
“Para usufruir dos valores pagos, Fernando Pimentel, com o auxílio de Benedito, utilizou das empresas de fachada para efetuar pagamentos de hospedagens em hotéis de luxo e fretamento de taxi aéreo em seu favor, dissimulando com isso a origem ilícita de tais valores. O valor apurado na movimentação bancária das empresas de fachada em hospedagens pagas e pagamentos de voos particulares somam R$ 1.106.401,50”.
O papel de cada um 
De acordo com a PF, Bené era o operador do esquema. “Bené atuou como operador de Fernando Pimentel na intermediação dos interesses da empresa privada Caoa junto ao MDIC, bem como coordenador a confecção das evidencias faltas na tentativa de dissimular a entrada de valores nas empresas de fachada”. A PF afirma ainda que as empresas de fachada controladas por Bené tinham até um laranja profissional. “Ricardo Guedes, de forma efetiva, embora menos intensa, aderiu à conduta da organização criminosa, fornecendo seu nome, de forma consciente e voluntária, com o escopo de viabilizar a existência e operação da empresa de fachada, a qual foi criada para lavagem de capitais de origem espúria”.
Pimentel, por sua vez, era responsável por usar sua influência política. Quando ele deixou o ministério, Bené passou a negociar com os sucessores indicados por Pimentel. “Os elementos de prova obtidos demonstram que o esquema criminoso, coordenado e integrado por Fernando Pimentel, utilizava a máquina pública, uma vez que servidores públicos estavam inseridos nesse contexto para barganhar facilidades e benefícios fiscais”, disse a PF.
O advogado de Fernando Pimentel, Eugênio Pacceli, nega as acusações da PF. “Negamos absolutamente. Não tem o menor cabimento e mostraremos o comprobatório dos valores. Vamos levar ao conhecimento da Justiça e do Ministério Público. Muitas dessas viagens fazem parte das verbas de campanha eleitoral. Mas tudo vira um balaio só”. O advogado de Bené, Roberto Pagliuso, disse que não comentaria o relatório da PF. O advogado de Ricardo Guedes nega as afirmações da PF. “As acusações são frágeis e inverídicas. A defesa tem convicção de que a inocência será reconhecida pela Justiça”, diz o advogado Pedro Ivo Velloso.
O advogado da Caoa, José Roberto Batochio, disse que a contratação das empresas de Bené foi legal. “A PF presume sem nenhuma prova. Houve emissão de nota, contrato, pagamento de imposto. O objetivo é incriminar Pimentel e por isso se passou a dizer que a consultoria estava na internet. A internet é hoje o depositório do conhecimento humano. Não estão nas bibliotecas. É muito difícil um trabalho técnico que não tenha fragmento na internet. A Caoa mantém a veracidade da consultoria e os relatórios estão sendo usando em projetos da montadora”.

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