A ainda presidente dá mostras de desconhecer a essência da Constituição do país que ela governa: atropela os fatos e a lógica
A
presidente Dilma Rousseff, coitada, não sabe nada de democracia. E,
creio, a esta altura, mais nada pode aprender. Sua compreensão do
assunto é ainda mais precária do que seu governo. Nesta quinta, foi ao
ar a entrevista que ela concedeu a Christiane Amanpour, da CNN. E olhem
que a dita-cuja tem sempre um olhar compreensivo com a esquerda
latino-americana. Mas até Christiane deve ter ficado espantada.
Indagada se
iria renunciar, Dilma disse uma coisa do balacobaco: “Meu mandato
pertence aos 54 milhões de votos que me foram dados e aos 110 milhões
que participaram [da eleição]”.
Bem, está
tudo errado. Infelizmente, Dilma não é presidente só de quem votou nela.
Nem mesmo apenas dos que “participaram do processo”. Ela preside, para
nossa pouca alegria, todos os brasileiros. Seu mandato não pertence ao
eleitor, mas à Constituição da República Federativa do Brasil.
Se o mandato
fosse propriedade dos eleitores, ainda que incluindo os de oposição,
não seria o Supremo (no caso de crime comum) ou o Senado (no caso de
crime de responsabilidade) a julgar um presidente. A Presidência da
República e o mandato presidencial pertencem ao arcabouço institucional
brasileiro. Fosse como quer Dilma, um presidente da República só seria
deposto por um recall. Há mais: se essa notável pensadora tivesse razão,
mesmo cometendo os crimes mais hediondos, um mandatário seguiria no
cargo se essa fosse a vontade dos eleitores.
Dilma disse, obviamente, uma bobagem.
Negou,
claro!, que tenha cometido crime de responsabilidade, e já me dispenso
de evidenciar o contrário, tão escandaloso é o atentado que cometeu à
Lei Fiscal. Mais uma vez, tentou transformar o impeachment numa obra de
Eduardo Cunha (PMDB-RJ), o presidente da Câmara, e disse que os que
comandam o processo respondem por acusações.
Alguns
respondem mesmo, é verdade. Dilma obteve 367 votos contra ela e 137 a
favor. Pergunta óbvia de resposta não menos: entre os que se alinharam
com ela, há ou não pessoas enroladas na Lava Jato? Mais do que isso:
delatores acusam a participação direta de Edinho Silva, um de seus
homens fortes, na cobrança de propina, repassada na forma de doação
legal. Se Cunha é ilegítimo para o primeiro ato de aceitação da denúncia
— e notem que a Câmara poderia lhe ter dito “não” —, por que teria
legitimidade para recusar a denúncia?
Dilma nunca
foi um primor de lógica, como seu raciocínio revela. E, como se vê, nada
entende de democracia, o que também é compreensível. Antes de aderir ao
brizolismo, ela tinha pertencido às hostes da VAR-Palmares, um grupo
terrorista. Saiu do brizolismo para o petismo. Vale dizer: terrorismo,
caudilhismo e populismo de esquerda. Democracia não é coisa que caia do
céu, não é? Como é que ela iria aprender alguma coisa nessa área?
É evidente
que quem espera ficar no cargo não concede entrevistas a veículos
estrangeiros satanizando todo o sistema político e judicial de seu país,
como faz esta senhora. Embora possa parecer o contrário, a entrevista é
a de quem já entregou os pontos.
O que Dilma
faz agora é insistir na tese do golpe para que ela e seus companheiros
possam se dedicar à sabotagem do futuro governo.
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