sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

Indício contraria versão de Lula. MPF suspeita que, no fim do governo, petista levou objetos do Alvorada para sítio em Atibaia

Patrimônio

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2011. Caminhão com os pertences do ex-presidente na chegada a São Bernardo do Campo; restante da mudança foi para sítio em Atibaia
PUBLICADO EM 05/02/16 - 04h00- O Tempo
Brasília. O Ministério Público Federal (MPF) requereu à empresa Granero Transportes documentos sobre a mudança do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e de sua família do Palácio da Alvorada, em Brasília, para São Paulo ao deixar o governo, no fim de seu segundo mandato. O objetivo é confirmar se a empresa levou parte dos objetos pessoais do petista para um sítio em Atibaia (SP). Esse seria mais um indício de que a propriedade pertence ao ex-presidente – embora esteja em nome de empresários amigos de sua família e sócios de um de seus filhos.
A primeira informação sobre o envio da carga para Atibaia foi publicada pelo jornal “O Estado de S. Paulo” em 2011. Um prestador de serviços da transportadora, ouvido pelo jornal nos últimos dias, confirmou que o refúgio no interior paulista foi um dos destinos do petista após deixar a Presidência.
O sítio é investigado na operação Lava Jato por suspeita de que as empreiteiras OAS e Odebrecht, ambas alvo da operação, pagaram por reformas no local, o que seria uma compensação por contratos obtidos em órgãos públicos. Há indícios, segundo os investigadores, de que o ex-presidente ocultou patrimônio.
Imagens .Fotógrafo que trabalhou para a Granero em 2011 registrando imagens da mudança, Orípedes Antônio Ribeiro afirmou, em duas entrevistas, que alguns caminhões levaram objetos do Palácio da Alvorada para Atibaia. Ele explicou que fez imagens da chegada dos caminhões apenas em São Bernardo do Campo (SP), onde o ex-presidente mantém um apartamento, mas que um dos dirigentes da empresa lhe relatou, na ocasião, que outros veículos foram para o sítio no interior paulista. “Não fiz o sítio, mas sabia que para lá foram presentes que ele (Lula) ganhava de outros governos. Obra de arte era em Atibaia”, disse.
Orípedes afirmou que seguiam para o sítio obras de arte e vinhos e que, na época da mudança, perguntou para um dos responsáveis pela empresa para onde iriam os 11 caminhões. “Estava na época com o Emerson (Granero, diretor executivo da transportadora) fazendo as fotos (em São Bernardo). Perguntei e me disseram que tinha ido para Atibaia”, acrescentou.
A Granero foi contratada para fazer a mudança pelo governo. A reportagem de “O Estado de S. Paulo” questiona a transportadora há oito dias sobre os locais das entregas. A empresa alega que os dados estão em seu arquivo morto e que os entregará ao Ministério Público. O Instituto Lula não respondeu aos questionamentos sobre a mudança.
O ex-presidente já confirmou que frequenta o sítio em dias de descanso. Uma parte da área está registrada em nome de Fernando Bittar e a outra, de Jonas Suassuna. Ambos são sócios de Fábio Luís Lula da Silva, um dos filho de Lula. As duas frações não são divididas por cerca ou muro.
Desmentido
Inserções. O presidente do PT, Rui Falcão, negou que Lula e a presidente Dilma não participarão das inserções do PT na TV por temerem manifestações. “Nunca pensamos em colocá-los. São comerciais de 30 segundos no meio do Carnaval. É ridículo imaginar que se faz panelaço em inserção, que não tem data e hora. Ninguém vai ficar de frente para a televisão o dia inteiro esperando a inserção. É verdade que eles não participam, mas não por qualquer temor”, afirmou.
Rui Falcão disse que tanto Lula quanto Dilma foram convidados a participar do programa do dia 23.
“O presidente Lula já confirmou e estamos aguardando a confirmação dela”, afirmou. 
Advogado diz que MP barra acesso a inquérito

são Paulo
. O criminalista Cristiano Zanin Martins, que representa o ex-presidente Lula, disse que foi impedido pelo Ministério Público de São Paulo de ter acesso a partes do inquérito que apura suposta ocultação de patrimônio por meio do apartamento triplex no Guarujá (SP). Martins disse que tentou, nesta quinta, ter acesso a novos depoimentos citados em reportagens publicadas nos últimos dias, mas o promotor Cassio Conserino, responsável pela investigação, teria afirmado que o material ainda não foi anexado aos autos. “Isso é inaceitável, viola o processo legal e prejudica a atuação da defesa”, disse.

O advogado lembrou que Lula e a ex-primeira-dama Marisa Letícia serão ouvidos pelo Ministério Público no próximo dia 17 e que, embora partes desses depoimentos já tenham sido divulgados pela imprensa, não estão à disposição da defesa para que a mesma possa traçar a estratégia de atuação. “Vamos fazer uma análise da atuação do promotor e tomar as medidas para que sejam preservados os direitos que são do ex-presidente e de qualquer cidadão”, afirmou.
Arquiteto trabalhou para pecuarista preso

São Paulo.
 O arquiteto Igenes Irigaray Neto, 37, contratado para a reforma em 2010 no sítio em Atibaia (SP) frequentado pelo ex-presidente Lula, acompanhou nesta mesma época projetos encomendados pelo empresário José Carlos Bumlai no município de Dourados, em Mato Grosso do Sul. Amigo do petista, Bumlai foi preso em novembro passado na operação Lava Jato.

Em seu currículo profissional publicado em uma rede social, Irigaray Neto informou ter executado três projetos para a Usina São Fernando, que pertence a um filho de Bumlai, entre setembro de 2009 e junho de 2010. A reforma do sítio em Atibaia começou em outubro de 2010.

Após concluir a reforma em Atibaia, Irigaray Neto voltou a trabalhar para a família Bumlai em 2011, no projeto de ampliação industrial da Usina São Fernando. Após sua participação na obra no sítio vir a público, ele deixou Dourados.

Celina Irigaray Vargas, irmã do arquiteto, disse que, no momento, Irigaray está envolvido em outro projeto em uma cidade no interior do Mato Grosso do Sul. “Meu irmão não tem culpa de nada. Nem sabia de quem era aquele sítio. Ele foi contratado, fez a obra e voltou pra cá”, afirma ela.
“Coisa normal”
Gilberto Carvalho. Chefe de gabinete de Lula nos oito anos em que o petista ocupou a Presidência da República (2003-2010), o ex-ministro Gilberto Carvalho disse considerar a “coisa mais normal do mundo” se a Odebrecht tiver bancado a reforma do sítio usado por Lula. Carvalho, que hoje é presidente do Conselho Nacional do Sesi, argumenta que o sítio não pertence formalmente a Lula e que não existe relação de causa e efeito entre a reforma e algum benefício público dado à empreiteira. “É a coisa mais natural do mundo que você possa ter empresas contribuindo com essa ou com aquela pessoa. O Lula estava fora já da Presidência na maioria desses casos. Fornecedores contribuíram com o Instituto Fernando Henrique, com o Instituto Lula”, disse.
Consórcio bancou obra em sítio
São Paulo. Uma espécie de consórcio informal de empresas dirigidas por amigos do ex-presidente Lula bancou obras no sítio frequentado pela família do petista em Atibaia (SP), segundo testemunhas ouvidas pela “Folha de S. Paulo” e depoimentos colhidos pelo Ministério Público de São Paulo.

Os trabalhos na propriedade foram iniciados em outubro de 2010, quando Lula ainda estava na Presidência, posto que ocupou até o fim daquele ano.

Pelo menos três empresas teriam participado das reformas no imóvel, de acordo com esses relatos: a Usina São Fernando, do pecuarista e amigo do ex-presidente José Carlos Bumlai, além de Odebrecht e OAS.

A Usina São Fernando, que formalmente é de propriedade dos filhos de Bumlai, contratou os serviços do arquiteto Igenes dos Santos Irigaray Neto para as obras iniciais no sítio, segundo a “Folha” apurou com pessoas próximas ao pecuarista. Essa versão é corroborada pelo testemunho de profissionais que participaram da reforma em depoimentos ao Ministério Público paulista.
Ainda de acordo com os relatos feitos à promotoria, a empresa de Bumlai também bancou a mão de obra para a montagem da estrutura de uma casa anexa à sede do sítio, com quatro suítes, a um custo de cerca de R$ 40 mil.

Na semana passada, Patrícia Fabiana Melo Nunes, 34, ex-dona de uma loja de material de construção que forneceu produtos para a obra, afirmou que a Odebrecht realizou a maior parte da reforma, na qual foram gastos cerca de R$ 500 mil só em materiais.

O engenheiro Frederico Barbosa, que trabalha na Odebrecht, confirmou ter ajudado na reforma em seu período de férias, sem cobrar, para ajudar um amigo.
Móveis

Compras
.Notas fiscais de mais de R$ 200 mil indicam que a OAS pagou por móveis planejados usados tanto no sítio de Atibaia quanto no triplex no Guarujá, que também seria de Lula.

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