quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Solução da crise passa por sua criadora: a própria Dilma!


06/08/2015

Para que o vice-presidente da República e articulador político do governo, Michel Temer (presidente nacional do PMDB), deixasse a fleuma de príncipe da Dinamarca e reconhecesse que “há algo de podre no reino” é porque a situação está fora de controle. De perfil técnica e gerencial, a presidente Dilma Rousseff (PT) tentou de tudo para não ter que se meter nos assuntos políticos e esse, provavelmente, foi o seu maior erro, como política e gestora. Não se abdica daquilo que é a sua principal missão, que é apontar os rumos do país. Se deixa de fazê-lo, ou não sabe como, o país também fica sem rumo e desorientado ante nossa cultura e tradição de sistema presidencialista. O país ficou sem sua cabeça.

Quando o país, especialmente sua economia, ia bem, era fácil administrá-lo, mas, no surgimento dos problemas, a saída é chamar o presidente para consertar. Diante do aparecimento dos defeitos, Dilma foi transferindo responsabilidades e cobrando resultados, como uma gestora. Deixou a articulação política com o PT, e o resultado foi a trombada com o PMDB de Eduardo Cunha, que o derrotou e ao governo na eleição da presidência da Câmara dos Deputados. Em resumo, brigou com o principal e incômodo aliado. De lá para cá, o que ela fez? Chamou seu vice, Michel Temer, e toma que o filho é teu, já que ele, sendo presidente nacional do PMDB, que se entenda com Cunha.

Após a denúncia de envolvimento de Cunha com o esquema de desvios na Petrobras, ele rompeu com o governo, tirando de Temer as chances de obter resultados. No primeiro dia de trabalho, após o rompimento e após o recesso parlamentar, Cunha confirmou que ele é a própria bomba temida pelo governo e não as pautas que impactam os gastos públicos.

Hoje, o quadro é esse, de total desarmonia entre dois dos três poderes da República, com potencial para desmontar a própria República. Em tal quadra, Dilma não pode ficar mais de espectadora, e manter Temer nessa missão é temerário (sem trocadilho). Ele não pode ser esse articulador político do governo porque, em funda análise, seria o maior beneficiário da crise extrema, o que o levaria a perder o juízo para ganhar o poder em troca. Sua posição é delicada; na dúvida, é melhor que ele mantenha distância.

Quem assumiria, quem senão a própria Dilma? Ela criou os problemas que agora os desfaça, tendo diante de si soluções que só a presidente poderá tomá-las. Quais sejam, ou ela assume a coordenação política e econômica do governo para o qual foi eleita, ou renuncia ao cargo, ou ainda, se deixa ficar impedida pelas mãos do carrasco Eduardo Cunha. As escolhas são dela; se se omitir, serão de Cunha e Renan Calheiros (presidente do Senado), ambos do PMDB, cujo beneficiário seria o PMDB de Michel Temer.
Orion Teixeira
Orion Teixeira
orionteixeira@hojeemdia.com.br

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