Protestos
Menor e mais focado, grito de insatisfação toma todo o país
Capital. Em Brasília, a polícia calculou em 25 mil o número de manifestantes, embora os organizadores tenham falado em 55 mil; um boneco inflável do ex-presidente Lula chamou atenção |
PUBLICADO EM 17/08/15 - 03h00
De 15 de março a 16 de agosto, a situação
econômica do país e a política do governo da presidente Dilma Rousseff
(PT) só pioraram. Motivos suficientes para que os cidadãos que já haviam
tomado as ruas naquele primeiro protesto voltassem a gritar com ainda
mais força por toda a parte do país. Mas, com um foco mais definido no
pedido de saída da presidente, seja com um impeachment ou a renúncia, e a
menor presença de radicais pedindo rupturas democráticas, a quantidade
de gente nas ruas diminuiu.
Os números exatos são imprecisos, já que não
houve estimativa oficial no Rio de Janeiro, uma das cidades com maior
adesão. Nas outras, quase 900 mil pessoas foram contabilizadas. Ainda
que o total seja bem inferior aos 2,4 milhões de manifestantes de março,
superou as 700 mil pessoas que foram às ruas em 12 de abril, no segundo
grande protesto. Número que serve como alerta para o governo: o país
quer mudança. Ainda assim, Dilma se calou.
De toda forma, o Palácio do Planalto
respirou mais aliviado após uma semana de boas notícias no campo da
Justiça, com decisões favoráveis no Tribunal Superior Eleitoral (TSE),
no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Supremo Tribunal Federal
(STF), vindas depois de um rearranjo político com o presidente do
Senado, Renan Calheiros (PMDB).
Ao contrário do prometido, Renan não chegou a
ser alçado a inimigo geral da nação ao lado de Dilma e Lula, um alvo
muito mais frequente nesta do que nas manifestações anteriores. O
senador peemedebista até recebeu sua parcela de protestos, mas nem de
longe se tornou protagonista. Da mesma forma, o presidente da Câmara dos
Deputados, Eduardo Cunha, inimigo número 1 da presidente, recebeu
tímidos apoios entre os manifestantes.
O herói. Estrela mesmo nos cartazes e faixas
de apoio foi o juiz Sérgio Moro, responsável pela operação Lava Jato.
Ainda que não seja dele qualquer decisão acerca do futuro dos que
possuem foro privilegiado, como deputados, senadores e, eventualmente, a
presidente da República, os manifestantes demonstraram colocar nele as
esperanças de um país menos corrupto. Em Recife, o magistrado ganhou até
um boneco gigante com os dizeres “Moro, não nos abandone”.
Além dele, o procurador geral da República,
Rodrigo Janot, responsável por denunciar os políticos envolvidos no
esquema criminoso, também foi exaltado.
Embora a crise econômica e, em consequência,
o pacote fiscal, também tenham sido lembrados por manifestantes, a
pauta da necessidade de combate à corrupção e as críticas direcionadas
ao PT e às suas lideranças praticamente monopolizaram os atos realizados
ontem.
Oposição aparece. Diferença em relação aos
protestos anteriores também pôde ser notada na presença mais ostensiva
dos políticos de oposição. Incluindo o senador Aécio Neves (PSDB), hoje
principal porta-voz tucano na escalada contra o governo, as lideranças
mais relevantes da oposição fizeram questão de comparecer dessa vez. Foi
assim com Aécio em Belo Horizonte e com os senadores tucanos José Serra
e Aloysio Nunes Ferreira em São Paulo e Brasília, respectivamente.
Na capital paulista, de acordo com a Polícia
Militar, foram 350 mil pessoas nas ruas (em março o número passou de 1
milhão e, em abril, atingiu 273 mil). O Datafolha calculou em 135 mil
pessoas nas ruas ontem.
Multidões expressivas também tomaram conta
das ruas de Goiânia (70 mil pessoas) e Curitiba (60 mil manifestantes).
Em Belo Horizonte, foram 6.000 pessoas na praça da Liberdade, de acordo
com a Polícia Militar, mesmo número de abril e um quarto do registrado
em março. Os manifestantes, no entanto, calcularam em 15 mil o número de
presentes no ato da capital mineira.
Os protestos atingiram quase 200 cidades em
todos os Estados e também foram registrados no exterior, em cidades como
Londres, Paris e Lisboa.
Tranquilidade. Por todo o
Brasil, imperou o clima pacífico em todos os protestos. Apesar do
crescente clima de animosidade entre os dois lados da disputa ideológica
em redes sociais, o que incluiu uma bomba caseira jogada contra o
Instituto Lula e as polêmicas declarações do presidente da CUT, Vagner
Freitas, de que poderia “pegar em armas” para defender o mandato de
Dilma, poucos registros de confusão foram registrados.
Entre os pequenos incidentes, um se deu no
Paraná, onde petistas trocaram socos com manifestantes. Em outras
cidades, registros de pequenas discussões se deram entre manifestantes
que criticavam também o PSDB e a maioria que centrou fogo somente no PT.
Fatos isolados, no entanto.
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