terça-feira, 18 de agosto de 2015

Focus aponta cenário nebuloso para o Brasil

José Antônio Bicalho
José Antônio Bicalho
jleite@hojeemdia.com.br
 

18/08/2015

O boletim Focus, divulgado ontem pelo Banco Central, mostra que as projeções dos bancos e analistas de mercado para a economia estão deteriorando com velocidade. Para este ano, a queda esperada do PIB passou dos 1,97% na pesquisa anterior (divulgada no último dia 14) para 2,01% no Boletim de ontem. E, pela primeira vez, os analistas previram contração do PIB também no próximo ano. A estimativa passou de crescimento zero para queda de 0,15%.
 
Essa é a primeira vez desde que a pesquisa começou a ser realizada, em 1962, portanto há 53 anos, que o chamado “mercado” faz uma previsão de queda do PIB por dois anos seguidos. E essa é a quinta semana consecutiva em que pioram as projeções de crescimento da economia para este e o próximo ano.
 
Considerando que o recuo do PIB no primeiro trimestre foi de 1,6%, menor portanto que a projeção de recuo para o fechamento do ano, o que podemos entender é que os analistas consideram que ainda estamos no início do mergulho recessivo. Iremos ainda mais fundo e demoraremos mais tempo que o esperado anteriormente, é o que dizem as projeções.
 
No próximo dia 28, o IBGE divulgará o PIB do segundo trimestre. Teremos, então, uma noção mais clara da verticalidade da curva de queda da economia. Mas o boletim focus, que olha para o futuro, enxerga um cenário muito ruim.
 
Enquanto o levantamento apontava um mínimo crescimento para 2016, ou no mínimo estagnação, era porque os analistas acreditavam que a inflexão da curva de queda da economia se daria em algum ponto na passagem de 2015 para 2016. Quando a perspectiva para o próximo ano começa a se deteriorar é porque esse ponto está sendo empurrado para frente. Ou seja, a perspectiva agora é a de que a reversão para o crescimento (na comparação mês contra mês) venha a acontecer somente em meados do próximo ano.
 
Dois anos seguidos de recuo da economia serão desastrosos para as empresas e para as famílias, e o impressionante é que o custo social implicado na recessão está sendo friamente usado como variável da política macroeconômica. 
 
Como mostrou a coluna do Rafael Sânzio na edição do último domingo (pode ser lida no portal do Hoje em Dia), a tradução do economês quase impenetrável do último pronunciamento público do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, é que o desemprego será importante para reduzir a renda das famílias, aliviar a pressão de demanda e conter a inflação. Ou seja, estariam manejando o desemprego como uma ferramenta econômica. Acho isso assustador.

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