Ao contrário do que disse ontem, do pouco que o governo federal
conseguiu falar após os protestos de domingo, por meio do ministro da
Comunicação Social, Edinho Silva, a situação brasileira de hoje, de
insatisfação apontada pelas pesquisas e confirmada nas ruas, não se
resume ao pessimismo. Trata-se de uma reação legítima e natural de quem
vive uma realidade da qual não foi avisado e que, agora, não vê nem ouve
qualquer sinalização do que vem por aí, se recuperação ou desastre
maior, nem de como sair da crise. Ninguém fala nada nem aponta caminhos,
do governo à oposição.
Todos viram as ruas das capitais, especialmente São Paulo e Rio de
Janeiro, lotadas de gente gritando ‘fora Dilma’, ‘fora PT’, ‘fora Lula’,
como também ficaram sabendo que o governo passou o dia reunido para
avaliar os protestos e que, ao final, decidiu nada falar. Saíram todos
pelos fundos para evitar falar com a imprensa, como se estivessem
acuados ou fossem culpados. O governo está preocupado em se poupar e
salvar o mandato da presidente Dilma. O cidadão quer saber como sair das
crises econômica, política e ética. Na falta de caminhos, pede a saída
da presidente.
Da mesma forma, a oposição, liderada pelo PSDB do senador Aécio Neves,
chega mais uma vez atrasada, quase que pegando carona no movimento que
está nas ruas e lá chegou sem a iniciativa das lideranças políticas que
deveriam representá-lo. Falta sintonia e ousadia à atual geração de
políticos, do governo à oposição. Não foi falta de aviso. Desde 2013,
quando todos foram “perdoados” ao serem surpreendidos pelas grandes
manifestações de rua, cobrando e reclamando de tudo, especialmente da
falta de representatividade e de participação, nada mudou. Tudo
continuou como se nada tivesse acontecido.
Ainda neste ano, tivemos três grandes manifestações de rua – em março,
abril e agosto – poucos meses depois da eleição, quando a presidente
confirmou sua reeleição e a oposição bateu na trave a 3% de mudar a
história do jogo. Apesar disso, governo e oposição não entenderam o
recado das ruas. A retórica do governo e do PT foi repetida, acusando
golpismo, como se o país se resumisse a petistas e tucanos; agora, diz
que é onda de pessimismo. A oposição perdeu a conexão após a eleição e
virou espectadora, com receio de ser associada a golpista, ignorando
aqueles que a seguiram na eleição. Somente agora, os tucanos falam em
apoiar o impeachment porque as ruas de domingo pediram. Lideram ou estão
sendo liderados?
Mais uma vez, governo e oposição, juntos ou separados, não representam o
sentimento que vai se formando por aí por uma razão simples. Não
conversam, não dialogam com a sociedade e fazem apenas comunicação pelo
marketing, que maquia a realidade, como se, do outro lado, houvesse
apenas tolos.
Faça o que eu digo ...
Tão importante quanto os atos e fatos de domingo é a repercussão sobre
eles. A mais forte veio do ex-presidente Fernando Henrique (PSDB) ao
sugerir a renúncia de Dilma ante a cobrança das ruas. Como ela, FH viveu
situação semelhante, em 2002, com o ‘fora FH’, liderado pelo PT. Ao
contrário daquele, o pedido de agora está vindo das ruas, e o governo
está mais frágil.
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