sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Entrevero na fronteira (Brasil - Paraguay)

Manoel Hygino
Manoel Hygino
mhygino@hojeemdia.com.br


07/08/2015

Agosto não teve bom princípio. No primeiro dia, o embaixador brasileiro em Assunção foi chamado para receber queixa formal do vizinho país, devido à troca de tiros entre militares de cá, contrabandistas e militares de lá. O confronto foi no rio Paraná, altura da cidade de Salto Del Guairá, fronteira com os municípios de Mundo Novo, Mato Grosso do Sul, e Guaíra, Paraná.

O tiroteio teria ocorrido em águas paraguaias, em meados da semana anterior. Patrulha brasileira localizou barcos de contrabandistas tentando atravessar a fronteira com mercadorias. Os soldados atiraram e apreenderam as embarcações, a cem metros da costa paraguaia.

O governo de Assunção sentiu a pátria ofendida e, no dia seguinte, expediu comunicado oficial: “O Paraguai mantém uma estreita cooperação com o Brasil na luta contra as diversas formas de delinquência organizada, e espera que, baseado nos princípios de respeito recíproco e cooperação, atos dessa natureza não voltem a se repetir”.

É evidente que a ação militar decorreu simplesmente da necessidade de impedir que produtos, possivelmente armas e drogas, transpusessem ilegalmente a fronteira e chegassem até a outra margem. Paraguai e Bolívia, contudo, deveriam é ser reconhecidos ao Brasil pela cooperação histórica que lhes tem oferecido no plano econômico. Já não se diga de La Paz, cuja posição político-ideológica tem liames com o atual governo de Brasília.

Certamente, os brasileiros não se esquecerão da atitude adotada por Evo Morales com relação aos bens da Petrobras naquele país, uma apropriação ilegal e que prova o desrespeito ao patrimônio do vizinho, que sempre lhe demonstrou apreço e lhe disponibilizou colaboração. Quanto ao Paraguai, não se pretenderia evidentemente repetir o incidente que resultou no mais longo conflito armado da América do Sul, na segunda metade do século XIX. Foi o Brasil que se dispôs a construir, nos tempos recentes, a hidrelétrica de Itaipu, um empreendimento que honra a nossa engenharia, usina mantenedora da perspectiva guarani de desenvolvimento ao assegurar-se de energia. Presente de pai para filho, ou melhor: de irmão para irmão.

Quando os fatos “engrossam” na capital paraguaia e seus dirigentes precisam escapulir, é preciso recorrer ao Brasil. Quanto tempo viveu em Brasília Stroessner? Sempre protegido e tratado, às vezes, até com carinho? E o bispo Lugo, que decepcionou os dois lados da fronteira, além da própria Cúria?

Um simples incidente no rio Paraná não poderia servir para toldar relações duramente conquistadas. O Paraguai sabe perfeitamente o que é o contrabando que vem de lá e como ele reflete cruelmente na vida das pessoas. Deveria, assim, zelar pelas margens de seus rios e obstar a ação de bandidos. O Brasil cuidará de prender e punir os seus próprios marginais, com o rigor que cada um merece e exige. O que se quer é rapidez no combate ao crime; que hoje se expande por todo o território nacional em uma rede que atua ameaçadamente sobre a população acuada e temerosa.
Fonte: http://www.hojeemdia.com.br/m-blogs/manoel-hygino-1.669/entrevero-na-fronteira-1.337990

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