Frei Betto
Frei Beto
redacao@hojeemdia.com.br
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Dilma está acuada, mas não derrotada. Pressionada por Eduardo Cunha, vê
desmoronar a base aliada na Câmara dos Deputados. No entanto, a
presidente inicia um novo estilo ao ter a iniciativa de dialogar com o
Congresso. E, agora, ouviu os apelos de Lula e saiu da toca, viajando
pelo Brasil.
Se Renan Calheiros mantiver distância de Eduardo Cunha, Dilma só tem a
ganhar. E Michel Temer intensifica a articulação política do governo,
embora desagrade ao PT ver o vice tão respaldado por Dilma, mesmo ela
consciente de que o PMDB já decidiu apresentar candidato próprio à
eleição presidencial de 2018, o que configura o divórcio político com o
PT.
Enquanto a direita clama por impeachment e o PSDB pede novas eleições
para presidente, Dilma agora sai da letargia em que se encontrava. Se a
melhor defesa é o ataque, como ensinam os mestres da guerra (que têm em
Eduardo Cunha um aplicado aluno), Dilma já se defende mas ainda não
ataca. Tenta apenas se justificar ao evocar a legitimidade de seu
mandato.
Falta à presidente promover uma mudança de rota na política econômica,
de modo que o arrocho, chamado de “ajuste fiscal”, não penalize apenas
os trabalhadores. O Banco Central se convencer de que é hora de reduzir
os juros para evitar o desemprego. E a elite ser obrigada a dar a sua
contribuição. Os bilhões de dólares estocados por brasileiros no
exterior devem ser recambiados ao país.
Lula, de sua trincheira, parece Neymar obrigado a ficar no banco dos
reservas. Gesticula, sugere jogadas, põe a mão na cabeça quando vê chute
errado, chora quando o time toma gol. Suponho que deve estar
arrependido de não ter dado ouvidos, ano passado, ao “volta Lula”. Mas
agora só lhe resta reforçar o mandato de Dilma.
O ex-líder sindical sabe lidar com situações conflitivas. Apesar do
mensalão, deixou o governo com 87% de aprovação pessoal. Gosta de
desafios e é capaz de dar nó em pingo d’água.
Já Dilma não é afeita a conchavos e negociações. Tem caráter enérgico.
Nunca foi um ser político. De guerrilheira, acostumada a cumprir ordens
(sob o centralismo pouco democrático adotado pela esquerda), passou a
tecnocrata, gerenciadora de instituições do poder público. Gosta de
mandar e não de conceder. Porém, a conjuntura exige que ela mude de
estilo e passe a dialogar mais e a confiar nos movimentos sociais,
atendendo às suas demandas, como acelerar a reforma agrária,
intensificar a preservação ambiental, defender os direitos de indígenas,
quilombolas e atingidos por barragens.
Em meio à barafunda nacional, o PT precisa abandonar a letargia que o
acomete. Não se reconhece no Planalto, pisa em arapucas no Congresso,
faz de conta que a Lava Jato não é com ele, vacila na defesa do governo e
se mantém calado quanto a propostas alternativas para o Brasil, tão
enfatizadas em seus documentos originários.
Parece que só resta ao PT a fala final de Hamlet, a obra-prima de
Shakespeare: “O resto é silêncio”. No programa nacional de TV, exaltou
os feitos do passado sem explicar os malfeitos do presente nem
apresentar projetos promissores de futuro.
Não é à toa que, agora, a direita brada como cães raivosos em torno da caravana atolada.
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