terça-feira, 11 de agosto de 2015

Cresce no Brasil o número de escolas básicas públicas geridas pela Polícia Militar



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Mascar chiclete é transgressão leve. Usar óculos com lentes ou armações de "cores esdrúxulas" também, segundo o regulamento disciplinar dos colégios da Polícia Militar de Goiás.
São transgressões médias: sentar-se no chão fardado, espalhar boatos, deixar de prestar continência ou de cortar o cabelo no estilo escovinha.
Já "manter contato físico que denote envolvimento amoroso" (beijar) ou se meter em rixa são faltas graves. O aluno perde pontos a cada quebra de regra. Quem não se adéqua é transferido.
Na última semana, oito colégios goianos voltaram das férias nesse molde, o que fez com o que Estado pulasse de 18 para 26 colégios militares. Considerado um retrocesso por alguns educadores, o sistema que mantém policiais na direção das escolas está em expansão em Goiás. O governador Marconi Perillo (PSDB) pretende acabar o ano com 24 novas instituições.
Segundo a polícia, o modelo melhora o desempenho dos alunos (em nove Estados os colégios ficaram em 1º entre as estaduais no Enem ).
O Brasil possui atualmente 93 instituições de ensino da PM. Neste ano, Minas criou mais duas, chegando a 22 –elas atendem mais de 20 mil alunos. A Bahia, com 13, deve abrir mais quatro.
Em Goiás, o comerciário Ricardo Cardoso, 41, que tem duas filhas em escolas da PM, quer colocar a terceira na instituição em 2016. A maioria das vagas é preenchida por sorteios. "O nível dessas escolas é muito melhor."
Sua filha Júlia, 17, diz gostar do colégio Hugo Ramos, mas reclama da rigidez. "Um ou outro PM é rude. Mas a maioria é aberta." Para o pai, os alunos têm "voz ativa". "Sempre que minha filha reclamou, deram resposta. Adolescentes reclamam de tudo."
Clique na inforgrafia: Escolas da PM
FARDAMENTO
Aluno do terceiro ano do colégio Miriam Ferreira, que se tornou militar na semana passada, Douglas Fleury, 17, diz aprovar a mudança devido ao uso de drogas dentro da escola. O problema, para ele, pode ser a farda. "Alguns não vão ter como comprar."
A PM diz dar a farda (varia de R$ 400 a R$ 700) em alguns casos. Os pais pagam ainda mensalidades (de R$ 80 a R$ 110), não obrigatórias.
Para não desfalcar efetivo, a PM recorre a oficiais da reserva, que ganham adicional. Os docentes são civis –em outros Estados, alguns são militares– e ganham bônus de produtividade.
Diretor de colégio de Anápolis (GO), o sociólogo e capitão da PM Sirismar Silva diz que a polícia nas escolas não é ideal. "Mas é bom ouvir dos pais que seus filhos tiveram a vida mudada para melhor."
"Isso tem sabor de retrocesso", diz Ieda Leal, do Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás. Ela chama a medida de terceirização.
Para Maria Augusta Mundim, da Faculdade de Educação da federal de Goiás, o método é autoritário. "Cai por terra busca por autonomia e de construção de identidade."
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ESCOLAS DA PM

Modelo de colégios dirigidos por policiais está em expansão no país
COMO FUNCIONAM? Alunos têm de comprar farda, prestam continência e falam "senhor" e "senhora". Descuidos com a higiene podem causar punição. São ensinadas "noções de cidadania" em sala de aula. Há professores PMs, mas a maioria é de civis. Os diretores pertencem à corporação. Estudantes que se destacam ganham condecorações, mas quem não se adapta é transferido
PRÓS Segundo as polícias, a disciplina melhora o desempenho
dos alunos em provas como o Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) e o Enem. É o melhor modelo para colégios localizados em áreas violentas, onde há tráfico de drogas e prostituição, de acordo com a PM
CONTRAS Para educadores, o modelo padroniza comportamentos, inibe questionamentos e impede que se crie uma perspectiva crítica nos alunos. Sindicatos consideram uma forma de terceirização da educação
93 é a quantidade de escolas da PM no país
109 número estimado de escolas até o final do ano
9 Estados tiveram escolas da PM em 1º lugar no Enem 2014 entre as estaduais
Fonte: Secretarias estaduais de Educação

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