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Minas quer energia mais barata para indústria eletrointensiva
Alto custo da energia tem inviabilizado a produção de empresas no Estado

Respirando por aparelhos, as indústrias eletrointensivas de Minas Gerais têm no Congresso a última esperança para voltar a operar. Ou o tiro de misericórdia. A expectativa dos representantes das empresas que têm a energia como matéria-prima é a de que a bancada mineira de deputados e senadores consiga inserir uma emenda na Medida Provisória (MP) 677, assinada pela presidente Dilma Rousseff no dia 23 de junho, estendendo às companhias do Estado o benefício de redução no preço da energia.

A MP deu a um grupo de empresas localizadas no Nordeste a possibilidade de comprar energia na casa dos R$ 130 o megawatt-hora (MWh) a partir dessa quarta-feira (1°). O objetivo é estender o contrato que essas companhias mantêm com a Companhia Energética do São Francisco (Chesf) até 8 de fevereiro de 2037.

“Por meio de emenda, tentaremos ampliar o benefício para, pelo menos, as empresas que estão no território da Sudene (Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste)”, afirma o deputado estadual Gil Pereira (PP). A área mineira da Sudene é composta por 168 municípios com território superior aos estados de Alagoas, Sergipe e Paraíba.

Embora o valor do contrato que foi fechado para as empresas do Nordeste não seja o mesmo que vigorava no passado, ele é bem inferior ao praticado nas demais áreas do país. As indústrias de ferroligas instaladas em Minas Gerais, por exemplo, não conseguiram chegar a um acordo sobre o valor do megawatt-hora comercializado junto à Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) e estão descontratadas. Como reflexo, cerca de 80% da capacidade produtiva do Estado está parada.

De acordo com o presidente da Associação Brasileira dos Produtores de Ferroligas e de Silício Metálico (Abrafer), Henrique Simões Zica, as empresas do setor possuíam contratos com a estatal mineira na casa dos R$ 70 o MWh. Esses documentos, no entanto, vigoraram por cerca de dez anos e venceram em 31 de dezembro do ano passado. Como os reservatórios estão em baixa, o valor do MWh saltou para a casa dos R$ 400. Nesse preço, Zica afirma que é impossível produzir.

Para piorar o quadro, se o benefício do subsídio da energia for concedido apenas às empresas do Nordeste, as companhias que atuam em outros estados terão o que resta da competitividade ameaçada. Atualmente, 18 indústrias são associadas à Abrafe. Destas, 15 estão em Minas , que respondem por 70% da produção brasileira.

Segmento de ferroligas já desligou 53 fornos no Estado e demitiu pelo menos 4 mil pessoas

Dos oito mil postos de trabalho diretos gerados pela indústria de ferroligas, pelo menos quatro mil já foram encerrados, de acordo com dados da Federação Sindical e Democrática dos Metalúrgicos de Minas Gerais. E, sem os benefícios da redução no valor da energia, o quadro de desempregados vai aumentar ainda mais. Vale ressaltar que dos 66 fornos da indústria mineira de ferroligas, 53 estão abafados.

“Só assim (com o benefício do governo federal) será possível retomar a produção industrial e pôr fim à onda de demissões em massa que ameaça a economia de Pirapora, Várzea da Palma, Montes Claros e outros polos industriais”, afirma o prefeito de Pirapora, Léo Silveira. De acordo com dados da Abrafe, as indústrias eletrointensivas são responsáveis por 40% do Produto Interno Bruto (PIB) das pequenas cidades em que estão instaladas.

Na avaliação do presidente do Conselho de Política Econômica e Industrial da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Lincoln Fernandes, o quadro das indústrias eletrointensivas é muito grave e vai piorar caso o benefício não seja estendido ao restante do Brasil. “A indústria de Minas Gerais e a de São Paulo vão amargar ainda mais prejuízos”, afirma.

Além da indústria de ferroligas, Fernandes cita a indústria siderúrgica e a de ferro-gusa como as mais prejudicadas. “São setores que possuem empresas concorrentes diretos no Nordeste. Se apenas eles forem beneficiados, o parque mineiro será comprometido definitivamente”, afirma.

Ferroligas são misturas de metais ou outros elementos químicos adicionados ao aço

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