Carlos Henrique/Hoje em Dia
Segundo Inep, 50% dos professores mantêm atividade extra para aumentar renda
Pela manhã, Joara é professora de português e, à tarde, trabalha como redatora em uma rádio

Mais da metade dos professores da rede pública de ensino de Minas Gerais – municipal e estadual – precisa se desdobrar em jornadas de trabalho estendidas para garantir uma renda adicional, mas ainda inferior a três salários mínimos.
No Estado, a maior parte dos profissionais com apenas um emprego recebe entre R$ 1.018 e R$ 1.356, enquanto a maioria dos que exercem uma atividade extra tem remuneração entre R$ 1.696 e R$ 2.034.
Esse cenário foi revelado por levantamento do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Educação, baseado em um questionário aplicado a mais de 24 mil professores mineiros. No Brasil, foram ouvidos mais de 225 mil profissionais.
Efeito
O resultado da sobrecarga, na avaliação de especialistas e dos próprios docentes, é a deficiência na qualificação profissional e na qualidade do ensino. “Com dupla e até tripla jornada, o professor será impedido de planejar as atividades de sala de aula e isso tem impactos profissional e pessoal”, afirma a coordenadora-geral do movimento Todos pela Educação – responsável pela compilação dos dados do Inep –, Alejandra Meraz Velasco.
De acordo com ela, é preciso começar a promover mudanças, mesmo que de maneira gradativa, começando pela contratação dos servidores das escolas públicas.
“Os gestores devem planejar melhor os próximos concursos – já que alterar a situação das pessoas que já foram contratadas é mais difícil –,considerando o vínculo do professor com a profissão em função da jornada”, avalia.
Desgaste
Há cerca de dez anos, a professora de geografia Angela Cristina da Silva Lopes, de 45, sente na pele as consequências da rotina puxada, que chega, em média, a 12 horas de trabalho por dia. Pela manhã, ela ocupa um cargo na secretaria da escola em que trabalha, em Contagem, na região metropolitana. À tarde, leciona para cerca de 90 alunos, de 9 a 10 anos, na mesma instituição.
“Sinto prejuízo para a minha qualidade de vida. Chego em casa exausta e ainda tenho que fazer as tarefas domésticas. E tem que sobrar um tempinho para eu cuidar de mim também”, ressalta Angela, que está em busca de mais uma ocupação para os fins de semana. “O salário não supre todas as necessidades. Atualmente, as designações de segundo cargo dão até briga entre os professores”, diz a docente.
Sem saída
A professora de português e jornalista Joara Maria de Campos Menezes, de 32 anos, também acumula funções. Há quatro anos, o dia dela começa na escola e termina em uma rádio de BH, onde atua como redatora.
“Com sinceridade, se a remuneração fosse melhor e o professor valorizado, considerando a minha vocação, desistiria de ser jornalista. Tenho me sentido muito cansada neste ano”, lamenta Joara.
Segundo ela, se pudesse ter uma carga horária maior, aliada a um salário mais alto, a opção seria, sem dúvidas, “por apenas um emprego e mais dedicação a ele”.


Segundo Inep, 50% dos professores mantêm atividade extra para aumentar renda