quinta-feira, 2 de julho de 2015

Ruim para o Brasil, pior para Minas


José Antônio Bicalho
José Antônio Bicalho
jleite@hojeemdia.com.br


02/07/2015

As montadoras de automóveis compõem um setor muito sensível às mudanças macroeconômicas. Carros são bens duráveis, tecnologicamente sofisticados, produzidos por uma cadeia industrial complexa e, por isso tudo, caros. Para vendê-los é preciso que haja crédito farto, juro baixo e confiança do consumidor na manutenção do emprego. Desde janeiro, não temos nada disso.

Nessa quarta, a Anfavea (entidade que representa os fabricantes de veículos no Brasil) divulgou os números de emplacamentos de junho. Vieram péssimos. Foi o pior resultado em oito anos, tanto para o mês quanto para o acumulado do primeiro semestre.

Foram emplacados, em junho, 212,5 mil veículos entre automóveis, caminhonetes, caminhões e ônibus. A queda é de 19,4% na comparação com o mesmo mês do ano passado. E praticamente estável, mas um pouco abaixo, dos 212,7 mil veículos emplacados em maio.

No acumulado do primeiro semestre foram vendidos 1,32 milhão de veículos, uma queda de 20,7% frente ao mesmo período do ano passado. Somente em 2007 as montadoras experimentaram um primeiro semestre mais fraco.

A Anfavea também divulgou nessa quarta nova projeção para o fechamento do ano, de queda de 20,6% nas vendas. Parece otimista, já que não existe sinal de mudança nos fatores que motivam a desaceleração do setor.

Vamos, então, listar esses fatores para verificar se não estou enganado.

1 – Confiança do consumidor: com o desemprego em alta, a tendência é que o consumidor fique a cada dia menos propenso a assumir compromissos de longo prazo.

2 – Custo do financiamento: com a alta da inflação, a expectativa é de continuidade do aperto monetário por meio da elevação da taxa selic. Com isso, todos os demais juros de mercado, incluindo o do financiamento de veículos, ficam mais altos e desestimulantes para o consumidor.

3 – Preço do automóvel: em janeiro foram retirados todos os benefícios fiscais (que o governo chamava de ‘estímulos’) que foram concedidos às montadoras ao longo dos últimos cinco anos. Com isso, o custo de produção e o preço dos automóveis subiram. Não existe qualquer perspectiva de retorno de tais benefícios.

4 – Redução do crédito: o aumento dos juros torna os bancos mais seletivos na análise do cadastro dos candidatos para liberação do financiamento. Eles alegam que estão se protegendo de um esperado aumento da inadimplência. Mas o fato é que os bancos ficam desestimulados a liberar crédito quando podem ganhar muito e com segurança total emprestando para o governo.

5 – Aperto na renda: quem perde o emprego não compra carro, e milhares de trabalhadores deverão ser demitidos neste semestre. Além disso, a queda na renda dos trabalhadores por conta da inflação reduz a capacidade de compra de bens caros, mesmo que financiados.

Não vou arriscar qualquer percentual, mas acredito que a queda nas vendas de veículos neste segundo semestre será maior que os 20,7% do primeiro semestre. E isso será muito ruim para Minas, que tem a maior montadora do país, a Fiat, além das fábricas de caminhões da Iveco (Sete Lagoas) e da Mercedes (Juiz de Fora), algumas fábricas de máquinas agrícolas e um enorme parque de autopeças.

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