sexta-feira, 3 de julho de 2015

Lula diz que não se resolve violência 'colocando moleque na cadeia'

03/07/2015 12h51 - Atualizado em 03/07/2015 15h49

Ex-presidente criticou decisão da Câmara de reduzir maioridade penal.

Ele ainda aconselhou Dilma a 'encostar a cabeça no ombro do povo'.

Fernanda CalgaroDo G1, em Brasília

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou nesta sexta-feira (3), em Guararema (SP), a redução da maioridade penal aprovada pela Câmara dos Deputados. Ele disse que o Congresso joga “nas costas de meninos de 16 anos” o que o Estado não faz.
Lula participou da 5ª Plenária Nacional da Federação Única dos Petroleiros (FUP).  Recebido ao som de “Olê, olê, olá, Lula, Lula”, o ex-presidente vestia um macacão laranja, idêntico aos dos sindicalistas, com o nome “Lula” bordado em branco no canto esquerdo.
“O Congresso quer jogar nas costas de meninos de 16 anos a responsabilidade do que governos não fazem”, afirmou.
Na madrugada desta quinta-feira (2), a Câmara aprovou, em primeiro turno, proposta de emenda à Constituição (PEC) que reduz de 18 para 16 anos a idade penal para crimes hediondos, homicídio doloso e lesão corporal seguida de morte.
“Será que o estado brasileiro cumpriu com as suas obrigações com os jovens de 16 e 17 anos?”, questionou Lula, para completar em seguida: “O estado que não cumpriu com as suas obrigações resolve acabar com a violência colocando moleque na cadeia”, declarou. Apesar da “dívida histórica” que apontou, do país com os jovens, ele afirmou que os governos petistas "avançaram muito".
Ele reconheceu, no entanto, que a redução tem o aval da maior parte da população. “Eu sei que é um tema que, se for para plebiscito, possivelmente ganha, assim como a pena de morte”, afirmou.
Conselhos para Dilma
Na parte final da fala para os metalúrgicos, Lula dirigiu alguns conselhos para a sua sucessora no cargo, a presidente Dilma Rousseff. Ele disse que Dilma tem que "andar pelo país" e "botar o pé na estrada".
"Eu penso que ela tem que priorizar andar por esse país. Ela tem que botar o pé na estrada. Ao invés de ficar na televisão ou na internet ouvindo os que falam mal dela, ela tem que ir para a rua conversar com o povo, que está torcendo e querendo que ela governe esse país da melhor maneira possível", afirmou Lula.
Para o ex-presidente, 2015 vai ser um ano difícil para o país. No entanto, ele avalia que Dilma vai ser motivo de orgulho até o final do mandato. Segundo Lula, "nas horas difíceis" , a alternativa é "encostar a cabeça no ombro do povo".
O Congresso quer jogar nas costas de meninos de 16 anos a responsabilidade do que governos não fazem"
Luiz Inácio Lula da Silva
Ex-presidente da República
"Nas horas mais difíceis não tem outra alternativa a não ser encostar a cabeça no ombro do povo e conversar com ele. Mostrar quais são as dificuldades e mostrar quais são as perspectivas. Eu acho que a gente vai ter um 2015 difícil. Todos os cenários apontam que vai ser difícil. Eu passei décadas difíceis nesse país. Quem viveu a década perdida sabe do que eu estou falando. Mas eu estou convencido que a presidenta Dilma vai ser motivo de orgulho até o final do mandato dela", completou Lula.
'Pequeno aperto'
Lula também saiu em defesa do governo Dilma Rousseff e listou uma série de medidas recentemente anunciadas da chamada “agenda positiva” do governo federal, como programas de investimento na agricultura.
O ex-presidente justificou o “pequeno aperto” na economia agora para garantir o crescimento e pediu tolerância com a petista. “Ser exigente não é xingar a presidente”, declarou, criticando quem se vale do anonimato nas redes sociais para falar mal do governo.
“Em 2003, não sei quantos de vocês me xingaram, mas, naquele tempo, a internet não tinha tanta força. Então, me xingaram em silêncio”, disse.
Lula apontou ainda um “mau humor” contra o governo e reiterou suas críticas à imprensa, que, para ele, só ressalta aspectos negativos.
“Acho que tem gente que dá a notícia a mais negativa possível para desestabilizar o governo e criminalizar o PT”, afirmou.
E completou: “É só ver a primeira página dos jornais, ver a TV, a internet: os adversários só tratando de mostrar apenas as coisas ruins, e as coisas boas não são mostradas. Queremos que mostrem a verdade, as coisas como elas são”, afirmou.
Lula reclamou da "agressão" que, segundo ele, a presidente Dilma Rousseff vem sofrendo.
“Nunca vi na vida agressividade à instituição do presidente da República como a gente está vendo agora. Eu achei que o problema era comigo, por eu ser nordestino e não ter diploma universitário, mas nunca vi tanta agressão quanto a companheira tem sofrido”, afirmou.
Ele não poupou ataques ao período tucano no governo federal, mas afirmou que a atual situação do país não é boa. No entanto, disse que, se comparada com o início do seu primeiro mandato, está bem melhor.
Ao invés de ficar na televisão ou na internet ouvindo os que falam mal dela, ela [Dilma] tem que ir para a rua conversar com o povo"
Luiz Inácio Lula da Silva
Ex-presidente da República
“Quando comparamos que a coisa não está boa, comparamos conosco, mas a gente tem que comparar com o país que nós herdamos”, afirmou. “Tenho muito orgulho de ter visto o povo brasileiro viver o seu melhor momento de autoestima. Nunca os brasileiros tiveram tanto orgulho de serem brasileiros.”
Segundo ele, a presidente Dilma tem a obsessão de trazer a inflação para o centro da meta.
“Vejo críticas e esquecem quanto era a inflação quando me entregaram o país, era de 12,5%”, disse, acrescentando que pede todo dia para que Dilma não perca a “tranquilidade”.
“Eu peço a Deus todo dia para a Dilma não perder a tranquilidade. É nessas horas que a gente tem que provar por que fomos eleitos”, disse.
Petrobras
Lula usou parte do seu discurso para enaltecer as conquistas da Petrobras e falar da descoberta do pré-sal. “Tenho muito orgulho da empresa, que representa praticamente quase 13% do PIB”, disse.
Sobre o escândalo de corrupção na estatal, Lula disse que, “se alguém de dentro da Petrobras ou de fora fez alguma sacanagem ou roubou, essa pessoa que pague”.

 

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