sábado, 9 de maio de 2015

Quebradeira nas revendas


José Antônio Bicalho
José Antônio Bicalho
jleite@hojeemdia.com.br
08/05/2015

A coluna de quinta-feira (7) tratou do pessimismo dos empresários da construção civil. Hoje, o tema é a crise da cadeia automotiva. Os dois setores foram os pilares da política de crescimento via consumo interno aplicada pelo ex-ministro da Fazenda Guido Mantega. Agora, com o arrocho monetário e fiscal de Joaquim Levy, são os setores que mais sofrem com o recuo da demanda.

Os números são assustadores. Segundo dados do Sincodiv, entidade que representa as revendas de veículos em Minas Gerais, as vendas de automóveis no Estado em abril (11,6 mil emplacamentos) caíram 17% em relação ao mês anterior e 25,2% na comparação com abril de 2014.

Nos caminhões, as vendas despencaram 55,9% em abril/2015 contra abril/2014. Nas motos, o recuo foi de 15,4% na mesma comparação.

Conversei com o Camilo Lucian, presidente do Sincodiv e dono de concessionárias em Belo Horizonte, sobre o drama do setor. Segundo ele, a multiplicação do número de marcas presentes no país acirrou a concorrência no varejo e derrubou as margens. Consequência disso é que não há mais colchão. Uma queda significativa dos volumes, como a de hoje, coloca todas as concessionárias no vermelho.

Existem diferenças entre marcas e modelos, mas a revenda de veículos novos trabalha com uma média para margens brutas (sobre preço de tabela) entre 7% e 8%. Mas a guerra de descontos espreme ao máximo esses percentuais, trazendo a margem líquida para abaixo dos 3%.

Quebradeira

Perguntei a Lucian se existe risco de uma quebradeira generalizada na ponta de vendas. “Ela já começou”, disse. Segundo dados da Fenabrave, a entidade nacional que representa as concessionárias, no primeiro quadrimestre foram fechados 250 pontos de vendas, o que equivale a 3,1% dos oito mil existentes no país, com a demissão de 12 mil trabalhadores.

Caso o fenômeno se repita nos próximos quadrimestres, até o final do ano serão fechadas 750 concessionárias, com a demissão de 36 mil pessoas. “Mas a tendência é a de que esses números sejam ainda maiores”, disse Lucian, já que a capacidade de resistência das empresas será minada progressivamente.

Em Minas, existem 1,3 mil concessionárias, que empregam cerca de 62 mil trabalhadores. Caso o prognóstico se confirme, até o final do ano serão fechadas 122 lojas, o que representará o desemprego de 5,9 mil trabalhadores.

Mas, se nada mudar, praticamente todos apresentarão prejuízo ao final do ano. Menor para os que se capitalizaram na boa fase do passado recente e não precisam de capital de terceiros para o giro do estoque. E mais para os que dependem do financiamento dos bancos das montadoras, que em geral cobram CDI mais algo entre 0,5% e 1,5% ao mês.

Qual o motivo principal da crise? Segundo Lucian, a conjugação de fim dos descontos de IPI (em janeiro), alta dos juros e maior seletividade dos bancos na concessão do crédito. Mas, principalmente, o medo do brasileiro de assumir compromissos de longo prazo neste momento de instabilidade econômica e incerteza política.

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