segunda-feira, 4 de maio de 2015

O ano que não começou

Leida Reis
Leida Reis
lreis@hojeemdia.com.br


04/05/2015

Ao receber as contas de luz deste mês, os brasileiros se dão conta de que a crise não está para brincadeira. Justamente nessa conta, a junção de duas crises, a hídrica e a econômica. Com a escassez de água, a energia elétrica fica mais cara e tem como companhia os juros altos, o crédito em baixa, a inflação corroendo o salário. Esses elementos compõem um cenário nada promissor para 2015, carregando junto o ano que parecia ainda distante, 2016.
Não me lembro de termos matado um ano vindouro como estamos fazendo agora com 2016. Em Pernambuco se comemorará o centenário do nascimento de Miguel Arraes e, na Espanha, o quarto centenário da morte de Miguel de Cervantes, o escritor de Dom Quixote de La Mancha, o sonhador dos moinhos de vento. Teria sido também Arraes um Dom Quixote?
Fato é que 2016 está fadado a não ser recebido com a saudação de um Feliz Ano Novo por excesso de desesperança. Estando ainda no primeiro semestre de 2015, começamos a convencionar que 2016 não existirá, que passará em branco, que não será capaz de restituir o que o presente ano vem tirando: empregos, lucros, padrão de vida, contratos, patrocínios culturais, crédito imobiliário, sonhos.
O acirramento da recessão é certo. Até o final do ano teremos cortado o supérfluo, adiado projetos e postergado viagens. Mas não é justo matarmos um ano que não nasceu.
Será o ano da Olimpíada no Rio, evento um pouco mais tímido que a Copa, que virá com o entusiasmado de sempre dos esportistas, mas o pé no chão que faltou no Mundial. Investimentos haverá, sim, com uma abertura artística e atletas do mundo inteiro desafiando a gravidade e os limites do corpo. No entanto, a crise econômica será capaz de manchar seu brilho? Ao que tudo indica, os Jogos Olímpicos não se safarão do triste cenário.
Não vou desejar um feliz 2017 porque reiteradas vezes manifesto meu otimismo. O alerta para 2016 fica de um ano sem riscos e desperdícios. Com consciência e muito trabalho, qualquer caminho pode ser modificado. Se ao menos começarmos o próximo ano mais conscientes de que nada é de graça e de que a natureza cobra a conta, teremos mais chances. Por enquanto, tomemos as rédeas deste 2015!

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