Arquivo Pessoal / Reprodução
Corpo decapitado pode ser de jornalista político desaparecido no interior de Minas Gerais
José Metzer estava desaparecido desde 16 de maio
Policiais civis de Belo Horizonte estão em Padre Paraíso, no Vale do Jequitinhonha, auxiliando nas investigações sobre assassinato do jornalista Evany José Metzker, de 67 anos. A determinação partiu do governador Fernando Pimentel (PT) e atende a pedido feito pelo presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais (SJPMG), Kerison Lopes, na manhã de ontem (19).
A equipe do Departamento de Investigação de Homicídios e de Proteção à Pessoa (DHPP) que está em Padre Paraíso é coordenada pelo delegado Emerson Morais. São quatro investigadores e uma escrivã que vão dar sequência à investigação que já tem, pelo menos, dois depoimentos colhidos em cartório nessa terça-feira (19/5) pela equipe da Delegacia de Padre Paraíso, assim como outros levantamentos obtidos no local a partir de diligências preliminares e das primeiras impressões da perícia criminal.
De acordo com a assessoria do governo, Fernando Pimentel determinou ao chefe da Polícia Civil, delegado Wanderson Gomes, apuração rigorosa no caso e também solicitou ao secretário de Defesa Social, Bernardo Santana, que todos os esforços da área de Segurança Pública do Estado sejam no sentido de assegurar total esclarecimento sobre a motivação do crime, identificação e prisão dos culpados.
Para o presidente do Sindicato dos Jornalistas, a providência garantirá agilidade e neutralidade nas apurações. “As estatísticas mostram que assassinatos de jornalistas quase sempre tem relação com o poder local”, justifica. E como exemplo cita os assassinatos do repórter Rodrigo Neto e do fotógrafo Wagney Carvalho, ocorridos em 2013, em Ipatinga, no Vale do Aço, mortes só esclarecidas depois que o DHPP e uma força-tarefa assumiram o caso. Entre os envolvidos nestas duas mortes estava um policial civil, já condenado a 12 anos de prisão.
O corpo do jornalista foi encontrado segunda-feira (18) na zona rural. Estava decapitado e com as mãos amarradas. Segundo a delegada de Padre Paraíso, Fabrícia Nunes, as investigações seguem por duas linhas: crime passional ou ligado às matérias que o blogueiro fazia na região. Segundo a mulher do jornalista, a professora Ilma Chaves Silva, de 51 anos, Metzker investigava uma quadrilha envolvida com a prostituição de adolescentes e denunciava ações de políticos corruptos da região.
Crime
O corpo foi encontrado em uma região de difícil acesso e com grandes erosões, na comunidade rural Pioneiras. As mãos estavam amarradas, sem calças e com uma camiseta do blog Coruja do Vale. Ao lado estavam vários documentos de Metzker, entre eles a Identidade, cartões de crédito, folhas de cheque e uma carteira funcional do jornal impresso Atuação, agora o virtual Coruja do Vale.
Como estava com a aliança e um relógio supostamente de ouro, a PM descartou que tenha sido vítima de um latrocínio (matar para roubar). O Corpo de Bombeiros chegou a ser acionado para ajudar nas buscas pela cabeça, mas antes que chegasse à cidade ela foi encontrada pelos investigadores e militares a 100 metros do corpo. O crânio estava quebrado, sem os olhos e pele.
De acordo com informações do Instituto Médico Legal (IML) de Teófilo Otoni, a data provável da morte é 14 de maio e por causa do adiantado estado de putrefação não foi possível apurar a causa, como também saber se o jornalista foi decapitado vivo. Uma pesquisa suplementar (reação vital) será feita pelo laboratório da PC em Belo Horizonte. A previsão é que o resultado saia em 45 dias.
Rodrigo Neto
O jornalista Rodrigo Neto Faria foi morto com três tiros, na madrugada de 8 de março de 2013, no bairro Canaã, em Ipatinga. Pouco mais de um mês depois, no dia 14 de abril, o fotógrafo Walgney Assis de Carvalho também foi morto a tiros, em um pesque e pague da cidade de Coronel Fabriciano.
As investigações feitas por uma força-tarefa com policiais de Belo Horizonte resultaram no indiciamento de Alessandro Neves Augusto, conhecido como “Pitote”, pelas duas mortes. A PCl apurou que no assassinato de Rodrigo Neto, ele agiu com a ajuda do ex-policial civil Lúcio Lírio Leal, que foi condenado a 12 anos de reclusão, em agosto de 2014. Pitote vai a julgamento dia 19 de junho deste ano.
Neto foi morto por denunciar crimes impunes no Vale do Aço e o fotógrafo porque saberia quem o matou. As investigações desses casos resultaram em nove inquéritos que apuraram a autoria do assassinato de 14 pessoas, tendo os crimes ocorridos entre 2007 e 2013, em Ipatinga e municípios vizinhos. E no indiciamento de 16 pessoas por homicídio, incluindo entre elas seis policiais civis e três militares.
Outras três pessoas foram presas em flagrante por porte ilegal de arma de fogo. Apesar disso mandante e motivação ainda não foram esclarecidos. De acordo com informações da Polícia Civil em Belo Horizonte, existe um inquérito complementar em andamento, mas ele corre em segredo de justiça.