quarta-feira, 13 de maio de 2015

Destempero na política


Editorial
Jornal Hoje em Dia
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13/05/2015

O destempero verbal do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva já é por demais conhecido. Afeito aos hábitos do homem simples que é, sua espontaneidade às vezes é desconcertante. Só que há limites para isso. Do contrário, seus arroubos correm o risco de deixar de fazer parte do anedotário político e ir parar nas raias dos tribunais.
É o que está acontecendo agora. O ex-presidente é alvo de um inquérito da Polícia Federal por suspeita de ter cometido crime eleitoral. As acusações são de calúnia, injúria e difamação contra o senador mineiro Aécio Neves. Lula será interrogado por meio de carta precatória. Não terá que ir à delegacia, pelo menos por enquanto.
No calor da campanha para a eleição presidencial do ano passado, o petista, certamente temeroso de perder o pleito de sua candidata, Dilma Rousseff, para o senador da oposição, “soltou o verbo”, como se diz popularmente. Foi no tradicional bairro de Santa Tereza, em plena capital dos mineiros.
Há pessoas que acreditam que na política vale tudo, só não vale perder. Um homem público, e mais ainda, um ex-presidente da República, tem a obrigação de respeitar as práticas da reverência e das boas maneiras.
Era 18 de outubro, a apenas uma semana do segundo turno das eleições. Com a expressão agitada, Lula gritou do palanque que o lema de Aécio era “meu negócio com mulher é partir para cima agredindo”. Ou seja, tirou, não se sabe de onde, a informação de que o senador mineiro tratava o sexo feminino com violência.
Antes de Lula discursar, o mestre de cerimônias do comício leu uma carta de uma suposta psicóloga, provavelmente uma militante do partido, que lançou a tese de que Aécio era adepto da prática de espancar mulheres. E lançou os adjetivos de “ser desprezível” e “cafajeste”.
Há pessoas que acreditam que na política vale tudo, só não vale perder. E lançam mão de condutas absolutamente condenáveis como estas. Um homem público, e mais ainda, um ex-presidente da República, tem a obrigação de respeitar as práticas da reverência e das boas maneiras com os adversários. É assim que se comportam os homens justos e de bem.
Lula da Silva saiu do seu segundo mandato com um índice de popularidade invejável. Mas não pode acreditar que isso permita a ele cometer abusos e exibir maus comportamentos. A arrogância – que ele voltou a exibir no último 1º de Maio em discurso a trabalhadores – pode ser a ruína de quem sonha em ser um estadista.

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