sexta-feira, 8 de maio de 2015

CRISE! Polícia improvisa cadeia em Belo Horizonte para conter déficit de vagas

SEGURANÇA

Diante de crise no sistema, Ceflan perde razão de existir 

Com prisões lotadas, central que deveria agilizar ocorrências se torna em cadeia improvisada


PUBLICADO EM 08/05/15 - 03h00
“Pega ladrão”, gritavam pedestres que andavam pelo centro de Belo Horizonte. Um homem de 24 anos furtou um celular e, graças aos gritos, ficou retido pela população até ser capturado pela Polícia Militar. São 8h de quarta-feira, o telefone é recuperado, e as pessoas seguem a caminho do trabalho com a sensação de que justiça foi feita. Mas quase 24 horas depois, o suspeito ainda não havia sido apresentado ao delegado, e um crime de menor potencial ofensivo inutilizou três equipes da Polícia Militar que deixaram de atuar, na ronda preventiva.

A demora é reflexo da crise prisional que vive Minas Gerais, com presídios superlotados, sem vagas para novos detentos. Na ponta, esse problema atinge o criminoso, mas desencadeia um efeito cascata com prejuízos para toda a sociedade. Policias estão sobrecarregados de trabalho e atuando em um ambiente com ainda mais riscos. Os cidadãos são obrigados a viver em uma cidade menos vigiada, mas em meio a um crescimento da criminalidade.

A reportagem de O TEMPO acompanhou as 12 horas do plantão noturno das duas unidades da Central de Flagrantes da Polícia Civil (Ceflan), ambas no Floresta, na região Leste.

Criadas para agilizar o atendimento de ocorrências, as centrais acabaram se transformando em cadeias improvisadas, onde dezenas de detentos que já deveriam estar em presídios estão amontoados em celas pequenas, sem banheiro, cama e com alimentação precária. Sem previsão de abertura de novas vagas, delegados se recusam a receber novos suspeitos.

Efeito. Na Ceflan I, às 21h chegaram quatro agentes penitenciários e com eles a esperança de remanejamento de alguns presos. Eles ficaram de plantão à espera das vagas prometidas para conduzir quatro detentos. Oito horas depois, às 5h, eles foram embora sem levar ninguém, já que nenhuma vaga foi criada. O plantão na unidade terminou com 18 presos sem a menor perspectiva de transferência. Quatro presos por tráfico chegaram à unidade às 14h, mas a ocorrência só começou a ser registrada às 21h, sete horas depois.

Na Ceflan II, 15 suspeitos já estavam sob custódia da Polícia Civil no início do plantão, mas outros três esperavam para serem recebidos pelo delegado. Entre eles Paulo Henrique Souza, o autor do furto no centro cometido no dia anterior. “Eu errei, mas essa situação é desumana. Fiquei numa cela mínima com mais 15 presos. A única refeição que tivemos foram seis marmitex para serem divididos. Estou fedendo, tenho que fazer xixi em garrafa de água”, reclamou.

Enquanto Souza reclama de dentro da cela, militares criticam o estado em que a situação chegou. “Já somos a terceira equipe que assumiu essa ocorrência e não conseguiu completar. Antes de mim e meu companheiro, quatro passaram o plantão aqui esperando. Estamos sem perspectiva e até a comida dos presos saiu do bolso da PM”, criticou um soldado. 

Corporação promete melhorias para a Deoesp

A falta de estrutura na Divisão Especializada de Operações Especiais da Polícia Civil (Deoesp) é um problema que perdura há anos, de acordo com o chefe do departamento, o delegado Ramon Sandoli. “A atual administração da Polícia Civil trabalha para melhorar a situação”, afirmou, por meio da assessoria da corporação.

Segundo ele, o déficit de pessoal (há 130, e o ideal seriam 160 agentes) e viaturas (há 28, mas o certo seriam 40), além de problemas físicos como a falta de capina e de limpeza externa do prédio, apontados em visita da Comissão de Segurança Pública da Assembleia Legislativa na quarta-feira, estão sendo resolvidos de acordo com as possibilidades. “Já foi enviado material neste ano, e outras melhorias estão sendo estudadas”, disse.

A delegada Talita Martins, que atua na unidade, afirmou que os problemas de estrutura são gerais. “A situação é difícil e longe de ser a ideal, mas a expectativa é de melhora”, avaliou.

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