Cristiano Machado/Hoje em Dia
Verônica de Paiva viu a conta de luz saltar de R$ 120 para R$ 300 ao mês
Verônica de Paiva viu a conta de luz saltar de R$ 120 para R$ 300 ao mês

Como se não bastasse a insatisfação com as altas na conta de luz impostas em 2015, o consumidor da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) comumente tem sido surpreendido com erros de leitura na fatura. Os equívocos normalmente são reparados, mas, antes, costumam dar dor de cabeça em quem foi atingido. Segundo a estatal mineira, os pedidos de revisão de conta aumentaram 1% em 2015, na comparação com igual período do ano passado.
 
A estudante de psicologia Verônica de Paiva ajudou a engrossar as estatísticas. Ela, que costuma ter um consumo linear de energia em seu apartamento, localizado no Carmo, na região Centro-Sul de Belo Horizonte, ficou assustada quando, há cerca de um mês, recebeu uma conta com volume de quilowatts-hora (KWh) quase o dobro do comum. O consumo, aliás, é indicado do lado esquerdo da fatura.
 
“Moro com três pessoas e uma delas não estava na cidade. Portanto, não fazia sentido o aumento. Vi claramente que era um erro de leitura. Apesar disso, demorei um mês para resolver”, afirma.
 
A primeira ação da estudante foi desligar todos os aparelhos e ver se o relógio continuava a funcionar, o que não aconteceu. Se continuasse, era sinal de que alguma ligação clandestina havia sido realizada no apartamento dela. Depois, Verônica se dirigiu a um dos postos da Cemig e pediu a ratificação da conta. Ela foi ressarcida com abatimento do valor nas contas futuras
 
Fuga de energia
 
De acordo com a coordenadora institucional da Associação de Consumidores Proteste, Maria Inês Dolci, o procedimento de Verônica foi exemplar. 
“Primeiro, houve o teste para saber se não havia fuga de energia. Constatado que o problema não era um curto, por exemplo, ela foi à companhia com os dados em mãos, inclusive a medição atual”, afirma Maria Inês.
 
Se a investida junto à concessionária não der certo, a saída é procurar os órgãos de defesa do consumidor, conforme sugere o gerente do Procon Assembleia, Gilberto Dias de Souza. “O primeiro passo é procurar a empresa. Depois, com o protocolo em mãos, o Procon”, diz.
 
Sem referência
 
Ele comenta que na atual conjuntura, em que diversos aumentos consecutivos foram impostos à tarifa de energia, é comum que o consumidor perca a referência de quanto deveria vir a conta de luz. Um bom balizador são os KWh consumidos. Na conta há, inclusive, uma média de consumo diária.
 
“É muito difícil que a pessoa tenha uma mudança muito repentina. Se ela não comprou um aparelho novo, não recebeu uma visita, o consumo deve ser linear. Em caso de mudanças repentinas sem motivo, vale a pena conferir”, observa.
 
Cobrança indevida pode ser abatida na próxima fatura
Como o relógio das residências não zera, mesmo que nenhuma denúncia seja feita, em caso de erro o abatimento será feito nas contas futuras de maneira automática.
 
“Caso a Cemig identifique erro na conta, o cliente pode escolher entre a emissão de uma nova fatura com o valor correto e ter o ressarcimento da diferença paga a mais em sua conta bancária. Ou, ainda, ter o consumo de energia pago a mais descontado do consumo a ser cobrado na próxima fatura”, diz a Cemig, por nota.
 
Ainda segundo a concessionária, o consumidor pode entrar em contato com a empresa por meio do telefone 116, que funciona 24 horas por dia.
 
Terceirizados
 
O coordenador-geral do Sindicato dos Eletricitários, Jairo Nogueira, concorda que o sistema de aferição adotado atualmente é moderno. No entanto, ele ressalta que erros poderiam ser evitados se os empregados que atuam na frente de leitura da empresa fossem próprios e não terceirizados.
 
“Os terceirizados não recebem tanto treinamento quanto os empregados próprios. Além disso, eles não têm um plano de cargos e salários dentro da empresa e, por consequência, não têm a mesma motivação. No passado, o leiturista poderia virar eletricista, técnico e engenheiro. Tinha um sonho. Hoje, isso não acontece mais”, enfatiza o diretor do Sindieletro, Arcângelo Queiroz.
 
Atualmente, segundo o sindicato, a companhia possui 7,5 mil empregados próprios e 16 mil terceirizados.