sábado, 2 de maio de 2015

Cada um diz o que quer e ninguém fala para o país


 
Orion Teixeira
Orion Teixeira
orionteixeira@hojeemdia.com.br
 

02/05/2015

Na falta de um pronunciamento oficial no 1º de maio, ou aquele feito nos moldes tradicionais, via rede nacional de rádio e televisão, já que a presidente Dilma Rousseff (PT) abriu mão, tivemos quatro ou cinco; cada um se jactando de ser porta-voz de algo maior do que é. Sem o recurso dessa mídia oficial, que mais lembra o teimoso “Hora do Brasil”, a presidente buscou quebrar o discurso com cara de chapa branca e usou as redes sociais para mandar seu recado. Além dela, se manifestaram o ex-presidente Lula (PT), os presidentes do Senado, Renan Calheiros (PMDB), e da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), e o opositor Aécio Neves, senador e presidente nacional do PSDB.
 
Se o receio da presidente era evitar ser alvo de novo panelaço, a estratégia adotada deu certo, driblando eventuais manifestações. Pelo teor do discurso exibido, reafirmou a identidade petista, de forma que protesto mesmo só sairia daqueles que foram contra sua reeleição e mantêm-se contra seu segundo mandato. Dilma reafirmou o que disse na véspera, que é contra a regulamentação da terceirização conforme estava sendo feita e aprovada pela Câmara dos Deputados, onde reina Eduardo Cunha, que de aliado nada tem.
 
Disse Dilma que é contra a ampliação da terceirização sem diferenciar o que seriam as atividades-fim (atividades principais da empresa) e as atividades-meio (secundárias e terciárias) nos diversos setores produtivos. Fez como pediram, e até pressionaram, seus aliados, especialmente as centrais sindicais, para fazer a defesa dos trabalhadores, que marcou a fundação delas e do próprio PT, há mais de 30 anos. Para não perder a viagem nem a oportunidade, alfinetou os tucanos por causa da truculência do governo paranaense pra cima dos professores.
 
‘Veto antecipado’
 
A resposta veio com Eduardo Cunha, mentor da terceirização, que, ao lado de outra central sindical, de oposição à CUT, disse que Dilma deveria ter “cautela” nesse debate. Ele não defendeu o projeto, mas insinuou que a presidente, ao ficar contra, estaria assumindo a posição do PT e não de vários outros partidos que a sustentam politicamente e que votaram a favor da terceirização. A manifestação de Dilma soou como um veto antecipado ao projeto que ainda será apreciado pelo Senado. 
 
Igualmente contrário à terceirização, Renan evitou confrontar Cunha, mas reafirmou que o Congresso não aprovaria nenhuma medida contra o trabalhador. Preferiu bater em Dilma e seu governo ao chamar seu ajuste fiscal de capenga e cobrar metas duradouras. “O Congresso será fiscal de seu ajuste”, jogou para plateia ao fazer pronunciamento usando a TV Senado. 
 
Desafio à elite
 
Lula desafiou a elite e os opositores de Dilma, avisando que vai correr o país para defender seu governo. Aécio ficou no ataque no campo da corrupção. Tudo somado, são quatro pronunciamentos das principais lideranças do país que não se entendem e, pior do que isso, são incapazes de sentar numa negociação para colocar o tal do interesse público na mesa. Feito pela mídia, virtual ou tradicional, essas posições não dialogam e apenas brigam entre si.

Nenhum comentário: