sábado, 23 de maio de 2015

BRASIL: Oportunidades perdidas

  

22/05/2015

Paulo Paiva - Jornal Hoje em Dia
Desde os anos 80 a economia brasileira apresenta crescimento lento, produtividade estagnada e baixa competitividade no contexto internacional, principalmente por questões relacionadas ao governo: excessiva burocracia no setor público, deficiência de infraestrutura, alta carga tributária, baixo nível de escolaridade e ambiente difícil para negócios.
Essa tendência contrasta-se com aquela das três décadas anteriores (1950-1980), quando a economia brasileira cresceu a uma taxa média anual de 7%, com expansão de sua indústria e de sua produtividade.
Os ciclos da economia brasileira estão relacionados às condições do ambiente externo e, para melhor entender o comportamento de seu crescimento, vale a pena examinar as respostas do governo às crises internacionais.
Dois exemplos de estratégias equivocadas parecem-me relevantes para se entender o pífio crescimento brasileiro, a partir dos anos 80.
O primeiro foi no final da década de 70, quando o chamado “milagre econômico brasileiro” foi confrontado com a crise da economia internacional.
No início dos anos 70, os Estados Unidos abandonaram unilateralmente a paridade do dólar com o ouro, criando enorme instabilidade nos mercados de câmbio. Em seguida, os preços do petróleo e as taxas de juros dispararam.
Enquanto todas as economias do mundo se ajustaram ao novo ambiente hostil, o Brasil, ao contrário, optou por ignorá-lo, admitindo ser “uma ilha de prosperidade”. O governo Geisel (1974-1979), então, lançou um programa arrojado de investimentos públicos sem recursos assegurados.
Perdeu-se, à época, a oportunidade para abrir a economia ao comércio externo, privatizar empresas públicas e deixar o capital privado participar da execução dos projetos do II PND.
O segundo foi o equívoco do governo petista em não ter entendido corretamente a profundidade da crise internacional, que não é mais apenas do sistema financeiro privado, mas de toda a economia global. Particularmente, por acreditar que o aumento nos preços de commodities seria permanente.
Que “marolinha” que nada.
No ciclo de expansão dos preços de commodities, perdeu-se a oportunidade para fazer reformas necessárias ao ajuste estrutural das contas públicas, como da Previdência Social, e para adequar o modelo de concessão da infraestrutura estimulando a participação do capital privado. Ademais, para se ter uma política de comércio exterior mais pragmática.
Vê-se que as semelhanças do governo petista com o governo Geisel são também nos erros cometidos: um acreditando no “Brasil grande” e outro, no “Brasil maior”. Ambos apostando no consumo interno ilimitado, sem considerar as restrições da economia. Ambos acreditando em suas próprias propagandas.
Autoengano que está custando caro ao país.
Se essas oportunidades não fossem perdidas, certamente a economia brasileira estaria em outro patamar.
Professor da Fundação Dom Cabral, foi ministro do Trabalho e do Planejamento e Orçamento no governo FHC
 

Nenhum comentário: