domingo, 3 de maio de 2015

Acontecimentos em Baltimore exigem reflexão mais profunda sobre divisão social nos EUA e também no Brasil

 Henry Galsky - O Tempo
Baltimore é a cidade mais populosa do estado de Maryland. Em Baltimore, mais uma vez, uma onda de protestos originados a partir da morte de um jovem negro levou os EUA a refletirem novamente sobre as divisões de raça (muito embora, de maneira mais ampla, o conceito de raça não exista, mas esta é outra história). Desta vez, Freddie Gray, um rapaz negro de 25 anos de idade, foi morto enquanto estava sob custódia policial. As circunstâncias estão sendo investigadas. A morte de Freddie Gray se soma às de outros jovens negros americanos ocorridas num curto período de tempo: Trayvon Martin, na Flórida; Michael Brown, Missouri; Eric Garner, Nova Iorque; Tamir Rice, Cleveland; Walter Scott, Carolina do Sul.
Em comum, o desequilíbrio na abordagem e tratamento violento destinado aos jovens negros e moradores de regiões e bairros pobres. Em Baltimore, no entanto, vale fazer a observação de que não se trata de uma cidade onde negros estão distantes da polícia e do poder municipal. A prefeita é negra, assim como 63% dos moradores e 40% dos policiais. Ao contrário de muitos dos casos listados acima, não se pode creditar a morte de Freddie Gray a um eventual distanciamento entre policiais e políticos brancos e cidadãos negros. Em Baltimore, esta equação não é exatamente simples. Na cidade, assim como em muitas outras dos EUA (e do restante do continente americano, para ser mais preciso), a pobreza é a causa da criminalidade, da falta de emprego e da licença velada para abordagens violentas a jovens pobres. Aliás, tanto lá como no Brasil. A forma como a polícia brasileira conduz investigações e aborda jovens pobres na periferia é muito conhecida por aqui também.
Michael Eric Dyson, professor de Sociologia em Georgetown, lembra dados que ajudam a entender a origem do problema em Baltimore. Freddie Gray vivia numa comunidade onde o desemprego ultrapassa 50%, a evasão escolar é de 49,3%, e a expectativa de vida é de apenas 68.8 anos (exatamente dez anos menos que a média americana). É claro que, diante de mais esta crise (para muita gente, “racial” – as aspas se devem às minhas observações do primeiro parágrafo), as atenções se voltam para o presidente Obama. Ao contrário do que muitos podem pensar, Obama é sempre cauteloso em comentários sobre assuntos como este. Isso porque ele é presidente dos EUA, o que implica em ser um líder nacional de todos os americanos, e não uma liderança política de um segmento da sociedade. É a postura de alguém que tem bastante bom senso em relação ao cargo – o que não quer dizer que, intimamente, este não seja um tema que o comova. 
“Desde Ferguson (onde Michael Brown foi assassinado)(...), temos visto exemplos demais do que parecem ser policiais interagindo com indivíduos, principalmente afro-americanos – muitas vezes pobres –, de maneiras que levantam questões preocupantes. E esses casos parecem aumentar”, disse.
Esta foi a forma encontrada para responder aos acontecimentos sem provocar ainda mais divisões sociais. A tendência é que o presidente americano recorra ao Congresso, pleiteando a criação de mais iniciativas educacionais, reforma do sistema judicial,  criação de empregos para ex-presidiários e muitas outras medidas progressistas que têm marcado a agenda de Obama em sua carreira política doméstica. 

Nenhum comentário: