Dione Afonso
DEVASSA - Em posto de Montes Claros, nota promissória de R$ 1,5 mi tem nome do prefeito

Em duas oportunidades, o Tribunal de Justiça de Minas negou pedido de detenção de 106 alvos da Operação Catagênese, entre eles 19 prefeitos do interior no exercício do cargo. O indeferimento das conduções coercitivas contrariou pedido da Polícia Civil e parecer do Ministério Público Estadual (MPE). A intenção dos investigadores era interrogar todos os investigados e testemunhas no mesmo dia da operação.
 
Por quatro votos a favor e um contra, a 6ª Câmara Criminal do TJ autorizou o início da primeira fase da Catagênese, deflagrada na quinta-feira para quebrar esquema de desvio de verbas por meio de fraude na compra de combustível. 
 
A decisão dos desembargadores, tomada em novembro, autorizou somente a expedição dos mandados de busca e apreensão, mas negou os pedidos de condução coercitiva. Essa medida obriga o investigado a comparecer na delegacia para prestar depoimento sendo depois liberado.
 
Um mês antes, em outubro, a mesma 6ª Câmara Criminal, em decisão monocrática da desembargadora substituta, juíza Luziene Medeiros do Nascimento, indeferiu a realização da operação. Na época, a magistrada não só negou os pedidos de conduções, mas também os 67 mandados de busca e apreensão de documentos. 
 
Com o indeferimento, polícia e procuradoria recorreram da decisão. Dessa forma, o pleno deu sinal verde para que a operação saísse do papel liberando os investigadores para fazer devassa nas prefeituras e postos de gasolina suspeitos de desvio de pelo menos R$ 20 milhões.
 
“O indeferimento de todos os pedidos havia causado prejuízo para o andamento da investigação. Agora, com a autorização dos mandados de busca, não houve prejuízo até o momento”, avalia a delegada Karen Lopes, da linha de frente da Catagênese.
 
Ontem, os 19 prefeitos suspeitos de desvio de dinheiro e falsidade ideológica começaram a ser interrogados. Entre eles, Ruy Muniz (PRB), de Montes Claros. No posto de combustível contratado pela prefeitura, os policiais encontraram uma nota promissória de R$ 1,5 milhão em nome do prefeito e da mulher dele, a deputada federal Raquel Muniz (PSC), conforme revelou ontem o Hoje em Dia. Ele alega se tratar de um negócio particular, de uma compra de apartamento.
 
Ao todo, 400 pessoas serão ouvidas, entre investigados e testemunhas. A lista inclui empresários donos de postos de combustível em 25 cidades, secretários, servidores da área de compras, entre outros.
 
Nos interrogatórios, testemunhas confirmaram a fraude. Segundo as investigações, o dinheiro era desviado através de cupons de bastecimento. Como as pessoas geralmente não pedem recibo, os mesmos eram preenchidos em nomes das prefeituras.