domingo, 29 de março de 2015

Para quem já sobreviveu a várias crises, essa é só mais uma

CONJUNTURA

Hiperinflação, confisco de poupança e remarcação de preços ainda estão presentes na memória


PUBLICADO EM 29/03/15 - 03h00
Para a dona de casa Solange Medeiros, coordenadora institucional do Movimento das Donas de Casa (MDC), crise é sinônimo do barulhinho da máquina de remarcação de preços nos supermercados. “Era o dia inteiro aquela maquininha. De manhã, ela já estava trabalhando e, se você voltasse à tarde, ela continuava trabalhando, remarcando o mesmo produto”, lembra, referindo-se à época da hiperinflação, quando os preços subiam até 80% em um único mês.

Para o empresário Ricardo Braga, diretor da Bravir, crise é quando o dinheiro acaba de uma hora para outra. “Com inflação, a pessoa até se acostuma, corta algum gasto. Mas aquela época foi difícil. Não tinha dinheiro de jeito nenhum”, conta, falando dos dias difíceis que sucederam ao confisco da poupança dos brasileiros pelo então presidente Fernando Collor de Mello, em 1990.

As memórias das diversas crises econômicas pelas quais o Brasil passou nas últimas décadas ainda estão frescas na mente de quem enfrentou as turbulências. Recordando os dias difíceis desde os anos de 1980, essas pessoas tiram lições valiosas para passar pela atual crise. “Não é a primeira, nem vai ser a última. Foi isso que eu aprendi”, diz o fundador da empresa Suggar, Lúcio Costa.

Na Bravir, que fabrica produtos cosméticos e farmacêuticos, como manteiga de cacau, pasta d’água e óleo mineral, a receita para enfrentar a crise é a paciência. “O mundo não vai acabar. Com o tempo, o mercado se ajusta”, diz Ricardo Braga. Ele manteve o planejamento normal até agora e não pretende tomar nenhuma decisão drástica, como demissão, até que o cenário se estabilize. “Vamos esperar para saber qual a situação real, em qual patamar o dólar vai ficar”, diz.

Na Suggar, o caminho é aproveitar o nicho de mercado que mais cresceu nos últimos anos, a classe C. Hoje, a empresa trabalha em quatro turnos, 24 horas por dia, para produzir, principalmente, tanquinhos. Há três anos, o carro-chefe era o exaustor que virou sinônimo da marca. “Estamos dançando conforme a música”, diz o empresário.

A falta de crédito, um dos freios do crescimento brasileiro, não assusta Costa. Ele afirma que tem a “convicção” de que a crise está próxima do fim e que vai continuar produzindo para “quem pode pagar R$ 30 por mês no carnê”.

Já para Solange Medeiros, a lição que ficou das crises anteriores é que a inflação é a grande vilã a ser combatida. “Para quem viveu a hiperinflação, essa (crise) de agora é fichinha. Mas é hora de ficar atento, porque a inflação chega aos poucos e, de repente, explode”, afirma.

“Fiscal do Sarney” na época do plano Cruzado, ela diz que o cidadão comum tem um papel importante agora, o de ser “fiscal” pelo bem do próprio bolso. “Tem que mudar hábitos, economizar e boicotar quem aumenta preços sem razão”, ensina.

Memória
Preços
. Na época do Plano Cruzado, os “fiscais do Sarney” chegaram a fechar supermercados pelo país alegando aumento irregular de preços, desabastecimento simulado ou cobrança de ágio.
Plano Real segurou a inflação

Os brasileiros que nasceram depois do Plano Real, em 1994, enfrentam, agora, a inflação pela primeira vez. Os mais velhos se reencontram com uma conhecida já meio esquecida. Por isso, é importante redobrar a atenção com as finanças pessoais, alerta o consultor financeiro do Mercantil do Brasil Carlos Eduardo Costa. “Tem que conter o consumo, controlar as contas e economizar”, diz.

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