domingo, 1 de março de 2015

O PMDB, o governo e a Síndrome de Estocolmo


Ricardo Galuppo
Ricardo Galuppo
rgaluppo@hojeemdia.com.br

01/03/2015

O governo da presidente Dilma Rousseff desenvolveu em relação ao PMDB um comportamento que lembra a tal Síndrome de Estocolmo. Trata-se, para quem não se recorda, do mal que acomete as vítimas de sequestro. Apesar dos maus-tratos e das humilhações, algumas delas se habituam ao cativeiro e chegam a manifestar simpatia por seus algozes. O cativeiro, nesse caso, é o Congresso — onde o PMDB fez do PT seu prisioneiro e aumenta a cada dia o valor do resgate pedido para mantê-lo vivo. De exigência em exigência, o “maior partido da base aliada”, como seus líderes fazem questão de deixar claro, sempre consegue um pouco mais do que tinha antes. E ao abocanhar mais um naco do poder, finge satisfação e faz um afago na vítima. Num estalar de dedos, no entanto, retoma a rotina de exigir sempre mais, mais e mais. 
 
Foi exatamente isso que aconteceu no episódio recente do “ajuste fiscal” — ou melhor, do novo aumento de impostos — que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pretende promover para tentar livrar o país dos efeitos da gastança de dinheiro público que ajudou a reeleger Dilma no ano passado. Simulando discordância ideológica com a redução de “direitos trabalhistas” supostamente proposta pelo governo, o PMDB ensaiou sua velha dança do desacasalamento. Bateu o pé, fez cara feia e, embirrado, ameaçou votar contra tudo que o Executivo mandasse ao Congresso. Quando o impasse parecia instalado, o governo cedeu à chantagem e hasteou a bandeira branca. 
 
Na segunda-feira passada, a equipe econômica foi convidada para jantar com os líderes do partido na casa do vice-presidente da República, Michel Temer (que também é do PMDB). Ao final do ágape, tudo parecia serenado. Já no dia seguinte, um político que é a cara da legenda — o senador Renan Calheiros (AL) — deixou claro que não será um prato de comida que saciará o apetite da turma. De agora em diante, conforme afirmou o manjadíssimo Calheiros, o PMDB quer “participar da definição das políticas públicas”. 
 
Uma frase como essa, dita por um político que parece não se preocupar com políticas públicas desde o tempo em que militava no PCdoB e distribuía panfletos nas esquinas de Maceió, exige tradução. Por “definição de políticas públicas” Renan, provavelmente, quis dizer o seguinte: seu partido quer saber onde o governo pretende gastar o dinheiro arrecadado com o tarifaço que o PMDB ajudará a aprovar. E também quer, mais do que isso, preencher no segundo e terceiro escalões da administração, alguns cargos responsáveis por liberar as verbas federais. Simples assim. Ao fazer aquilo que o PMBD exige que seja feito, o governo certamente terá mais facilidade para aprovar as medidas que deseja. O problema é que alguém precisa parar, fazer as contas e saber se, no final, isso sairá mais barato ou mais caro para o país.

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