terça-feira, 24 de março de 2015

MPF vai abrir inquérito para investigar intolerância contra religiões de matriz africana



Entidades afro no Brasil todo pedem proteção do governo contra Gladiadores do Altar, da Igreja Universal

POR 

Foto dos chamados Gladiadores do Altar, postada no Facebook pela Igreja Universal do Ceará - Reprodução
RIO - O Ministério Público Federal na Bahia (MPF/BA) vai instaurar um inquérito civil para investigar casos de intolerância religiosa contra religiões de matriz africana. A decisão foi tomada após uma representação feita pelo Coletivo de Entidades Negras (CEN), na sede do órgão, em Salvador. Nesta segunda-feira, entidades em todo o Brasil entregaram nas sedes estaduais do MPF um mesmo documento pedindo a proteção de grupos afro contra os Gladiadores do Altar. O MPF da Bahia foi o primeiro a abrir um inquérito.
Projeto da Igreja Universal do Reino de Deus, os Gladiadores do Altar reúnem milhares jovens com o objetivo de formar pastores. A postura militar do grupo, que usa uniforme, marcha e grita palavras de ordem como num batalhão do exército, gerou controvérsia no início deste mês, quando o vídeo de um culto caiu na internet. Mas, em nota, a Universal respondeu às críticas dizendo que o programa "auxilia os jovens, no Brasil e em outros países, que se sentem vocacionados para o trabalho missionário. Em sua maioria, são pessoas que pretendem retribuir o apoio que receberam quando estavam em situação de risco ou de vulnerabilidade social".
O documento entregue aos MPFs estaduais por grupos afro diz que, "Por décadas a Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) promove um massacre cultural e religioso contra as Religiões Tradicionais de Matriz Africana, perpetrando uma contínua, incansável, declarada e brutal perseguição através dos meios de comunicação social. A IURD promove o ódio religioso e através da bancada evangélica no Congresso Nacional estimula o fundamentalismo nas instâncias legislativas de nosso país, atentando contra o princípio constitucional que garante a laicidade do Estado".
CARTA ENTREGUE COM FOTOS E VÍDEOS
O documento compara os Gladiadores do Altar a grupos de terroristas internacionais como o Estado Islâmico, na Síria e no Iraque, e o Boko Haram, na Nigéria. O manifesto não denuncia nenhum ato específico de agressão dos Gladiadores do Altar contra grupos de matriz africana. Mas, segundo a carta, "o Povo de Santo, vitimado por tantos atos de violência perpetrados por pastores da IURD e seus fiéis, não tem condições de 'pagar para ver', até porque, são obviamente previsíveis os desdobramentos dessa iniciativa irresponsável: o fortalecimento de um ideário de ódio contra tudo e todos que não se conformam à pregação estreita da IURD – nas quais se enquadram também outras religiões, os povos indígenas, a população LGBT e grupos com ideologias libertárias.
A carta foi entregue às autoridades acompanhada de vídeos e fotos. Em Salvador, os lídereres religiosos levaram o material ao procurador-chefe do MPF/BA, Pablo Barreto, e ao procurador Regional dos Direitos dos Cidadãos (PRDC) Substituto, Edson Abdon. “Nossa obrigação constitucional é proteger os pilares da integridade religiosa. A representação será protocolizada, distribuída, vai receber um número e um procurador da República será designado para atuar no caso”, disse o procurador-chefe aos representantes do Cem e de terreiros de candomblé de Salvador, segundo texto divulgação no site do MPF baiano.
IGREJA NEGA INCITAÇÃO À VIOLÊNCIA
Em nota, a A Igreja Universal do Reino de Deus informa que "reitera o seu apreço pelos seguidores de todas as religiões e novamente esclarece que o projeto Gladiadores do Altar se resume a um programa de ensino religioso totalmente pacífico. A falsa polêmica é fruto de um lamentável mal-entendido da Internet que foi alimentado pelo desconhecimento de muitos e pelo preconceito de alguns.
O projeto visa nada mais que a formação de jovens vocacionados para o trabalho pastoral. Não há disciplina militar, não existe atividade física envolvida e jamais houve – nem nunca haverá – incitação à violência ou ódio a qualquer religião.
O próprio Ministério Público do Ceará, em nota enviada à Imprensa, avaliou que "não vislumbra um movimento armado ou com conotação de milícia no vídeo apresentado" e pediu respeito ao direito constitucional de liberdade de culto e de expressão da Universal.
A Universal está à disposição das autoridades para prestar quaisquer esclarecimentos sobre o programa e reafirma o respeito aos fiéis de todas as religiões, em cada um dos mais de cem países onde está presente. Aguardamos igual consideração por nossas crenças e convicções."


Leia mais sobre esse assunto em http://oglobo.globo.com/sociedade/mpf-vai-abrir-inquerito-para-investigar-intolerancia-contra-religioes-de-matriz-africana-15683429#ixzz3VK80r3qw 
© 1996 - 2015. Todos direitos reservados a Infoglobo Comunicação e Participações S.A. Este material não pode ser publicado, transmitido por broadcast, reescrito ou redistribuído sem autorização. 

Nenhum comentário: