segunda-feira, 23 de março de 2015

Motivação para ir às ruas vai da amizade à política

PROTESTOS

O TEMPO ouviu sociólogos, psicólogos e antropólogos sobre o que leva pessoas a se manifestarem


anistia
Cabeças. Campanha pela anistia foi coordenada por intelectuais, artistas, jornalistas, políticos e religiosos
PUBLICADO EM 23/03/15 - 03h00
As cenas de avenidas e praças tomadas por centenas de milhares de pessoas no país no último fim de semana impressionaram não só o governo da presidente Dilma Rousseff (PT), mas a maioria dos brasileiros – principalmente os mais jovens – não acostumados com mobilizações de tamanha proporção. Independentemente das bandeiras, o que é capaz de levar tanta gente a sair de suas casas? Estudiosos explicam que as motivações podem ir além de posicionamentos políticos.

consultou profissionais de diferentes áreas, como sociólogos e psicólogos, que afirmam que um dos principais propulsores para ganhar o espaço público é que as pessoas sejam diretamente atingidas por uma questão. Mas essa não é a única razão. A necessidade de mostrar um comportamento que será aprovado pelos amigos ou o entusiasmo de participar de uma ação coletiva também são estimulantes e fatores que ajudam um ato a ganhar grandes proporções. O TEMPO
O sociólogo Juracy Costa Amaral, professor da PUC Minas, explica que se sentir atingido por questões de sobrevivência é o principal fator para mobilizar multidões. “Quando se trata de questões econômicas, principalmente, complementadas por uma conduta moral, como um roubo, isso gera movimentação. Por mais que a sociedade aceite o furto como algo corriqueiro, quando ele toma grande proporção e, fundamentalmente, atinge o seu bolso, você passa a reagir”, afirma Amaral, lembrando os recentes aumentos dos preços da gasolina e da energia elétrica.
O sociólogo Wilson Cruz analisa ainda que “manifestar tem um certo charme”. Ele concorda com a avaliação de que um dos principais catalizadores é o fato de atingir diretamente o cotidiano da população, mas observa que, outros casos recentes de crise, como a de falta d’água, não gerou a mesma repercussão nas ruas.
“Poucas pessoas ficaram, de fato, sem água num universo do Brasil. As pessoas precisam sentir um desconforto imediato para chegar a sair de casa. A inflação que mexe no bolso, por exemplo. Quando a questão passa a ser individual, se torna um motivador. Os caminhoneiros estavam quase pagando para trabalhar e se mobilizaram”, diz.
O antropólogo da Universidade de São Paulo (USP) Adrian Lavalle revela outros elementos pertinentes para uma manifestação de grande adesão nas ruas: “Quando um mesmo fenômeno atinge públicos diferentes e quando as pessoas são mobilizadas pelas suas redes mais próximas de contato. Outro fator é quando você tem a percepção de que é possível se mobilizar a baixo custo”, disse.
Até Freud tem uma explicação, diz a professora de psicologia da PUC Minas Paula de Paula. Segundo ela, toda adesão a um grupo, como em um protesto, vem de uma identificação que pode ocorrer por vários motivos, alguns até inconscientes.
“Algumas pessoas estarão ali por ideologia, outras porque sentem que não podem ficar de fora. Os motivos podem não ser racionais. Muitos não sabem explicar bem porque estão ali. Também passa pelo lado afetivo. Se admiro alguém que vai, meu pai, meu namorado, é um motivo para eu ir. Não necessariamente passa pela política”, afirma.
Paula avalia ainda que, nesses casos, os motivos podem ser “contagiantes”. “Os significantes, as bandeiras podem oferecer uma justificativa racional para quem não sabe muito bem porque foi”, conclui.

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