FABIO RODRIGUES-POZZEBOM/ABR
Governo Dilma está nas mãos do PMDB
Sarney beija a mão da então ministra da Casa Civil: subserviência quando necessário

A demissão do ex-ministro da Educação, Cid Gomes, na última semana, marcou o protagonismo do PMDB na condução do segundo mandato da presidente Dilma Rousseff (PT), que antes mesmo de atingir os 100 dias de governo já enfrenta uma crise política. Do plenário da Câmara, a saída de Cid da pasta foi anunciada pelo “comandante” da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), antes mesmo de o Palácio do Planalto oficializar a decisão. Segundo especialistas ouvidos pelo Hoje em Dia, a legenda é considerada a “medida do fracasso ou do sucesso” da governabilidade petista desde o primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003.
Hoje, com sete ministérios e em vistas a ganhar o oitavo, o PMDB se fortaleceu para pautar os trabalhos no Congresso – com a conquista da presidência tanto da Câmara quanto do Senado –, e a ponto do vice-presidente, Michel Temer, dar coletivas em nome do governo, mesmo com Dilma presente no país.
“Dilma está fraca politicamente, perdeu a base de sustentação. O PT está isolado e enfrentando protestos. Somam-se a isso o escândalo da Petrobras e a Operação Lava-Jato. Com isso, cresce a figura do vice-presidente. Ele seguiu o rito do país e tomou frente das negociações inclusive com o PSDB”, afirma o doutor em filosofia e escritor Denis Rosenfield, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRS).
Divisão
Na avaliação do doutor em Sociologia e Mestre em Ciências Políticas pela UNB, Rodolfo Marcílio Teixeira, professor da Unieuro, o PMDB “sempre foi dividido”, mas sabe avaliar como agir para se manter no poder. Em alguns casos, pesa mais a amizade pessoal de peemedebistas com Dilma, como no caso do governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão.“Temos ou tivemos lideranças à esquerda como o senador Roberto Requião (PMDB-PR), ao centro como o ex-presidente Itamar Franco, e mais à direita, como o ex-senador José Sarney (PMDB-AP). Com tantos caciques fica difícil manter a unidade e talvez seja por isso que o PMDB nunca lançou candidato à presidência da República”, afirma. “No Legislativo, temos Renan Calheiros e Eduardo Cunha pressionando o governo Federal, apesar de Renan demonstrar maior disposição em negociar. E nos bastidores do governo, o vice Michel Temer já percebeu uma deterioração na relação do Congresso com o Planalto e está arrumando o meio de campo para 2016 e 2018 em uma aproximação com o PSDB, caso seja necessário se aliar a eles”, acrescenta.
Nos últimos dias, Michel Temer se reuniu com os tucanos ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o senador Aécio Neves, sob a justificativa de tentar minimizar as tensões entre PT e PSDB. A legenda de FHC e Aécio já anunciou apoio às manifestações contra Dilma, apesar de não defender abertamente o impeachment.
Apoio a Calheiros
Segundo Rodolfo Marcílio, há cerca de um ano e meio, quando o Planalto apoiou a candidatura de Renan Calheiros a presidente do Senado, a relação do alagoano com a presidente Dilma era considerada “boa”, mas o peemedebista esperava uma blindagem do governo antes de ter sido citado, neste ano, como um dos políticos envolvidos na Operação Lava-Jato. Está nas mãos de Renan e Cunha definir o calendário para votação das medidas provisórias de ajuste fiscal e a reforma política, por exemplo. Em jogo, estão pedidos de emendas parlamentares e cargos no governo federal.
“O presidente da Câmara, Eduardo Cunha, também foi citado na operação da PF sobre a corrupção na Petrobras, mas a relação dele com Dilma é diferente. Quando ele foi eleito para comandar a Câmara, o governo Dilma sofreu uma grande derrota, até porque Cunha defende uma independência em relação ao Planalto”, avalia.
O especialista em Marketing Político da USP e diretor de operações da Machado Inteligência Política, Adriano Mariano, considera que o PMDB ainda terá que construir nomes de peso para enfrentar, na próxima disputa pelo Planalto, nomes a serem lançados pelo PT e pelo PSDB. “A liderança maior é o Michel Temer, presidente do partido, mas não há outros políticos de expressão nacional. O PT poderia lançar Lula, mas a aprovação do governo Dilma pode inviabilizar uma vitória petista em 2018. Então o PT ainda depende do PMDB para ter governabilidade. O PSDB conta com Aécio, Geraldo Alckmin, governador de São Paulo, José Serra, senador, e com o governador de Goiás, Marconi Perillo”, destaca.
Outro fator ressaltado pelo especialista é a divisão interna no PT, que contempla alas que apoiam e criticam a presidente Dilma. “Ela é afilhada de Lula na política mas tem vontade própria, o que desagrada alguns militantes”, completa Adriano Mariano.