domingo, 29 de março de 2015

FUTURO: ‘Internet das Coisas’ ameaça a privacidade das pessoas

Até 2020 serão 50 bilhões de produtos conectados à rede, segundo estimativa de empresa dos EUA

A-G
PUBLICADO EM 29/03/15 - 03h00
Em pouco tempo, mais precisamente dentro de cinco anos, viveremos em casas inundadas por dispositivos high tech que, conectados, também “conversarão” entre si. Isso significa que, enquanto o despertador verifica seus compromissos para acordá-lo no melhor horário, o aparelho também aciona as luzes da casa, prepara seu banho e café e até abre a porta para seu pet passear no quintal.

A ousada estimativa prevendo que até 2020 serão 50 bilhões de coisas conectadas à internet foi feita pela Cisco Systems – empresa que oferece soluções para redes e comunicações. A multinacional norte-americana se baseia na premissa da “Internet das Coisas” (Internet of Things – IoT, em inglês), um conceito que envolve aparelhos com sensores capazes de receber e transmitir informações.
Diante desse futuro não tão distante, o professor da Universidade Federal do ABC e pesquisador de redes digitais Sérgio Amadeu da Silveira acredita que a IoT promete revolucionar a forma como as pessoas, os lugares e as coisas vão se relacionar. “Novas possibilidades vão gerar novos mercados, necessidades, facilidades, melhorias e negócios”.
Por outro lado, Silveira avalia que as pessoas vão estar muito mais vulneráveis. “Permitindo que as pessoas sejam identificadas por seus aparelhos, o local onde estão e pelo que estão fazendo, fica claro o risco em torno da intimidade perdida. A privacidade é fundamental em qualquer sociedade democrática e deve ser vista como um elemento a ser respeitado”, analisa o sociólogo.
Certo de que esse é um problema que já existe, mas que será intensificado, Silveira diz que as pessoas não estão preparadas. “Muitos não sabem dos riscos, e os que sabem não dão importância porque a questão da privacidade é entendida como algo necessário apenas a quem tem algo a esconder. Mas ela é vital para que você não seja modulado o tempo todo por tentativas de controle da sua vida. É fundamental que as pessoas tenham espaços onde possam abrir as informações para quem desejarem. Ainda temos muito o que debater para gerar soluções diante do enorme comércio de dados pessoais”.
Mercado. Números da Associação Brasileira de Automação Residencial (Aureside) mostram que o Brasil tem hoje aproximadamente 300 mil residências automatizadas, mas com potencial para atingir 1,5 milhão até o fim deste ano (veja como serão as casas do futuro na página ao lado).
Apesar da crescente demanda, o coordenador do curso de design de produtos da Fumec, Eliseu Resende, acredita que, sem investimentos em educação, o Brasil pode passar a reviver o retrocesso mercadológico do século XIX. “Penso na gravidade dessa questão para os profissionais que vão passar a fazer apenas ‘cascas’ para embutir aparelhos importados da China e Taiwan”, critica.
Criador de um fogão que pode enviar a lista de compras para o supermercado e demonstrar o passo a passo da receita, o designer Matheus Loureiro, 27, acredita que as instituições acadêmicas não vêm acompanhando as inovações. “O mercado está ditando tendências muito mais que a academia, porque a conectividade já existe há muito tempo, e o que temos são novas maneiras de se pensar produtos que utilizam essa rede para aumentar a utilidade dos objetos”, diz.
Loureiro explica que ataques de hackers à tecnologia do seu fogão podem acontecer, como em tudo na internet, mas ele diz que o produto não oferece nenhum perigo físico ao usuário, por trabalhar com o aquecimento por indução.
Marco Civil
Internet. Especialistas dizem que a legislação já “nasceu” velha ao não prever a nova realidade que vem com a “Internet das Coisas”, especialmente ao que diz respeito à defesa da privacidade.
Recomendações
Dicas de segurança:

Utilize senhas fortes e exclusivas para contas de dispositivos e redes de Wi-Fi
Altere as senhas padrão
Desative ou proteja o acesso remoto a dispositivos quando não for necessário
Use conexões com fio ao invés de sem fio quando possível
Seja cauteloso ao comprar dispositivos usados, já que podem ter sido adulterados
Instale atualizações dos aparelhos, quando disponibilizadas
Fonte: Symantec

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