quarta-feira, 18 de março de 2015

Documento diz que oposição ganha de goleada do governo

CRÍTICA INTERNA

Análise com avaliação da gestão de Dilma Rousseff vaza e expõe erros e insatisfações


DILMA/OAB
Equívocos. O documento circulou no primeiro escalão do governo e faz inúmeras críticas à Dilma
PUBLICADO EM 18/03/15 - 03h00 - O Tempo
São Paulo. Documento reservado do Palácio do Planalto admite que o governo tem adotado uma comunicação “errática” desde a reeleição da presidente Dilma Rousseff, afirma que seus apoiadores estão levando uma “goleada” da oposição nas redes sociais e aponta como saída para reverter o quadro pós-manifestações de 15 de março o investimento maciço em publicidade oficial em São Paulo, cidade administrada pelo petista Fernando Haddad, onde se concentra a maior rejeição ao PT.

Elaborado pela Secretaria de Comunicação da Presidência, comandada por Thomas Traumann, o documento, que não tem assinatura, circulou nesta terça entre ministros, dirigentes nacionais do PT e assessores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O texto cita, em tom de alerta, pesquisa telefônica recente feita pelo Ibope a pedido do Planalto na qual 32% dos entrevistados disseram ter mudado de opinião negativamente sobre o governo nos últimos seis meses – ou seja, da campanha de outubro até agora. Conclui que o país passa por um “caos político” e admite: “Não será fácil virar o jogo”.
O documento é dividido em três partes: “Onde estamos”, “Como chegamos até aqui” e “Como virar o jogo”. Na primeira parte, o governo faz um diagnóstico do momento e admite erros de ação principalmente nas redes sociais. “A comunicação é o mordomo das crises. Em qualquer caos político, há sempre um que aponte ‘a culpa é da comunicação’. Desta vez, não há dúvidas de que a comunicação foi errada e errática. Mas a crise é maior do que isso.”
Apesar do mea-culpa, o governo tenta dividir o ônus da crise. “Ironicamente, hoje são os eleitores de Dilma e Lula que estão acomodados com o celular na mão enquanto a oposição bate panela. Dá para recuperar as redes, mas é preciso, antes, recuperar as ruas.”
No segundo capítulo, o autor faz um inventário dos erros acumulados desde a eleição de Dilma em 2010 para explicar o momento atual. “O início do primeiro governo Dilma foi de rompimento com a militância digital”, diz um trecho. Um dos motivos seria a política de defesa dos direitos autorais implementada pela ex-ministra da Cultura Ana de Hollanda. O outro, o distanciamento com os blogueiros ditos progressistas durante a passagem da ministra Helena Chagas pela Secom.
“O fim do diálogo com os blogs pela Secom gerou um isolamento do governo federal com as redes que só foi plenamente restabelecido durante a campanha eleitoral de 2014”, diz o documento. “Em 2015, o erro de 2011 foi repetido”, completa.
O texto aponta a escolha de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e as medidas de ajuste fiscal para explicar um “movimento impressionante” de “descolamento entre o governo e sua militância”. Esse movimento, segundo a análise, foi intensificado pelo “desastrado” anúncio de corte no Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e aumento do preço da gasolina e energia elétrica, além das denúncias de corrupção na Petrobras.
Conclusão
O documento termina com uma comparação entre a situação atual e o terremoto que destruiu Lisboa em 1755, quando o rei Dom José pediu uma sugestão ao marquês de Alorna, que recomendou: “Sepultar os mortos, cuidar dos vivos e fechar os portos”. “Significa que não podemos deixar que ocorra um novo tremor enquanto cuidamos dos vivos e salvamos o que restou”, diz.
Contradições são destacadas

São Paulo
. O documento fala ainda de contradições. “Não adianta falar que a inflação está sob controle quando o eleitor vê o preço da gasolina subir 20% ou sua conta de luz saltar em 33%. O dado oficial IPCA conta menos do que ele sente no bolso. Assim como um senador tucano (Antonio Anastasia) na lista da Lava Jato não altera o fato de que o grosso do escândalo ocorreu na gestão do PT”.

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