segunda-feira, 16 de março de 2015

Discurso anti-Dilma uniu os manifestantes; para cientistas políticos, presidente deve buscar o diálogo

Demandas diferentes aparecem ainda porque os partidos políticos não estão à frente das manifestações.

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Bonecos de Lula e Dilma - Agência O Globo / Jorge William
RIO — Demandas como combate à corrupção, impeachment da presidente Dilma, contra o PT, o governo e os presidentes da Câmara e do Senado, por mais qualidade nos serviços de Educação e Saúde e até pedindo intervenção militar levaram às ruas, ontem, mais de 2 milhões de pessoas. Essa pluralidade, de acordo com cientistas políticos ouvidos pelo GLOBO, se dá tanto pelo hiato entre as promessas de campanha e o que as pessoas vivenciam no dia a dia. Para eles, as demandas diferentes aparecem ainda porque os partidos políticos ou uma liderança, que defina as prioridades, não estão à frente das manifestações.
— Andei pela Avenida Paulista e a cada quarteirão tinha um carro de som, um palanque. Ouvi desde pedidos de mais direitos sociais até agressões à presidente sem qualquer relação política, ouvi discursos conservadores e também progressistas — diz Oscar Vilhena, professor da FGV-SP: — Não havia unidade. Na verdade, o natural é que manifestações sejam sempre difusas e, por isso, é necessário liderança para definir as prioridades. A oposição não foi capaz ou não quis se envolver nesse momento. Mas se não existir liderança, a tendência é que os protestos se esvaziem como aconteceu com os de 2013.
Professor da UFF, Daniel Aarão Reis destaca que a pluralidade era “inevitável”, mas que alguns denominadores eram comuns: a rejeição ao PT, à Dilma e à corrupção:
Manifestante em Copacabana - CHRISTOPHE SIMON / Christophe Simon/AFP
— Sobre golpe e intervenção militar são núcleos pequenos que vociferam. Mas, o fato singular, é que, pela primeira vez, depois de 1964, as direitas foram às ruas avocando para si a brasilidade, o hino, a bandeira, o verde-e-amarelo. Ontem, ao contrário de 2013, esquerdas e direitas não estavam nas ruas, mas o descrédito do sistema político e a rejeição ao modelo que temos foram um ponto comum entre 2013 e agora.
Para Reis, nesse momento, com a pressão vinda das ruas aliada à crise econômica, às derrotas impostas pelo Congresso e o esgarçamento da relação com o PMDB, a presidente Dilma “está num mato sem cachorro”:
— Ela acreditou que ao nomear (Joaquim) Levy para a Fazenda, teria respaldo da oposição. Não aconteceu e, ao mesmo tempo, quem votou nela se sentiu perdido. Dilma não tem condições de voltar atrás, perdeu o apoio da base, sofreu derrotas no Congresso e tem que se equilibrar até a crise passar. Por isso, devia usar a margem de manobra que ainda tem, fazendo concessões ao Congresso, abrindo mais canais de diálogo e distribuindo os cargos do 2º e do 3º escalão.
Em Manaus, protesto contra a presidente Dilma - O Globo / Nathane do Vale
— Em tempos de crise econômica, a presidente não pode atender às demandas prometendo mais recursos para Educação e Saúde. Também não pode resolver da noite para o dia a alta do dólar ou a corrupção que a Lava-Jato trouxe à tona. Então, parece que a resposta imediata para quem foi às ruas está numa reforma na composição do governo. A pior coisa seria Dilma voltar a falar em pacote anticorrupção, em constituinte exclusiva, em projeto de lei. Essa conversa de dois anos atrás — diz a cientista política Marly da Silva Motta, da FGV-Rio.
Segundo ela, o mais adequado, no momento em que o governo está frágil politicamente, seria a presidente promover uma reforma na articulação política. Marly também defende que Dilma sinalize que está aberta ao diálogo:
— O governo tem que ouvir, tem que buscar aliados e até políticos que não estão na base. Ela tem quadros no PT, mas por que não aproveitar um vice como o (Michel) Temer? Ele seria um contraponto ao (Eduardo) Cunha (presidente da Câmara) e está passando incólume pela crise. Por que não conversar com o Julio Delgado, do PSB? É um político intocável até agora, pode contribuir. União nacional faria um link com as ruas, com o Congresso e com os partidos. É preciso estabelecer conexão com as demandas.


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