segunda-feira, 9 de março de 2015

Análise: Governo deve preparar-se para algo maior e imprevisível

IGOR GIELOW - Folha/Uol

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As ruas resolveram rugir, de forma aparentemente espontânea mas pelo visto com uma mãozinha do WhatsApp e outros mecanismos, uma semana antes dos protestos programados para o dia 15.

O governo vinha tratando os atos do próximo domingo com certo desdém; agora tem motivos para se preocupar.
Se antes a insatisfação contra Dilma, expressa em pesquisas, não encontrava vazão fora das conversas no supermercado ou nas sempre radicalizadas redes sociais, o que se viu na noite de domingo foi uma impressionante manifestação pública de rejeição.
Comparações históricas são tentadoras, perigosas e geralmente falhas. Guardadas as proporções, o exemplo que ocorre é o do dia 16 de agosto de 1992, quando o então presidente Fernando Collor estava afundado até o pescoço em denúncias de corrupção.
Buscando apoio popular, ele sugeriu que "o povo", essa entidade abstrata, vestisse verde e amarelo para honrar a bandeira naquele domingo –e, ato contínuo, apoiasse seu governo.
Deu no que deu: multidões foram à rua usando preto em luto por sua gestão, que acabou impedida no Congresso pouco depois.
Não foi bem isso neste domingo. E Dilma não é Collor, ainda que ele ainda esteja aí como seu aliado e investigado na mesma Operação Lava Jato que alimenta, com a debacle econômica, a repulsa ao governo.
A presidente ainda não foi acusada diretamente de malfeitos como seu antecessor, mas na era dos julgamentos online de reputações, isso parece contar pouco.

É inequívoco o sinal da noite deste domingo de 2015, estimulado ou não por correntes nos celulares. Se achava que a crise poderia ser circunscrita em negociações palacianas e no Congresso, o governo deverá preparar-se para algo maior e imprevisível. 

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