domingo, 29 de março de 2015

Abaixo-assinado virtual vira ferramenta útil para protestos

O PODER DA INTERNET

Site Avaaz mobiliza milhões de internautas em prol das mais diversas causas sociais

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Calheiros não caiu, mas Avaaz estimulou o fim do voto secreto na Casa
PUBLICADO EM 29/03/15 - 03h00
Ao entrar no site, um contador começa a girar. Até o fim da semana passada eram mais de 41,5 milhões (o equivalente à população da Argentina) o total de apoiadores espalhados pelos quatro cantos do mundo. O Avaaz – palavra que significa “voz” em alguns regiões da Europa, Oriente Médio e Ásia – se tornou uma das principais ferramentas de mobilização online.

Quem se registra no portal recebe uma enxurrada de e-mails, que pedem adesão às mais variadas causas. Nas últimas semanas, por exemplo, a esposa do ativista saudita Raif Badawi denunciava que ele foi condenado a dez anos de prisão e mais de mil chibatadas por causa de um post em um blog, classificado como “insulto ao islã”. Um total de 1,3 milhão de pessoas se sensibilizou e assinaram o manifesto virtual.

Um número semelhante de assinaturas foi recolhido em uma petição que pedia a condenação do grupo terrorista nigeriano Boko Haram, responsável por um massacre de mais de 2.000 pessoas em apenas 72 horas em uma região remota do país africano.

No Brasil, algumas mobilizações tiveram resultado positivo. A última, por exemplo, reuniu 420 mil assinaturas até que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recuasse da medida que autorizava cônjuges de parlamentares a utilizarem passagens aéreas bancadas pela Casa.

“O resultado concreto nem sempre é uma única forma de obter êxito. Anos atrás, o Avaaz pedia a cassação do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) após denúncias de corrupção. Ele não foi cassado (em fevereiro de 2013), e as pessoas perceberam que isso ocorreu porque o voto no Senado era secreto. Então, a campanha contra o Renan se transformou em uma luta pelo fim do voto secreto, que foi exitosa”, relembra o ex-diretor da Avaaz Michael Mohallem.

Na análise do chefe do departamento de Comunicação da PUC Minas, Ercio Sena, as ferramentas digitais e petições online têm um limite de atuação. “Esse tema (das passagens aéreas para cônjuges) causou indignação e, ao mesmo tempo, não foi difícil para o Congresso voltar atrás. Mas quando se trata de uma proposta como a da reforma política da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) que recebeu mais de 1 milhão de assinaturas e até virou projeto de lei, é necessário maior discussão. Em certa medida podemos dizer que o poder de mobilização está nas redes sociais, mas há algumas questões em que é possível fazer concessões”, argumenta Sena.

Participação. Mohallem, que hoje é professor da FGV Direito Rio afirma que o pano de fundo das manifestações desde 2013 é o aumento da participação popular na política. Ele dá exemplos, como mecanismos de consulta online, de apresentação de projetos de iniciativa popular via internet e a facilitação no envio de demandas ao Congresso ou direto ao Executivo.

“O governo brasileiro tem que caminhar para instituir novas formas de participação. Desse modo, o fato de as pessoas irem às ruas seria um recurso utilizado em situações mais extremas”, afirma.

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Impeachment tem 1,9 mi de assinaturas

Proposta em meio às turbulentas manifestações de 2013, uma petição publicada no Avaaz que exige impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT) chegou a mais de 1,9 milhão de assinaturas.

Eleitor de Lula e Dilma (em 2010), o analista de sistemas Rogério Teixeira Martins diz ter proposto a petição para “saber se era apenas eu que me sentia traído”. Mas se desiludiu com a ferramenta. “Sei que se houvesse imparcialidade da entidade, estaríamos com 8 milhões de assinaturas ou mais”, diz.

Segundo comunicado da Avaaz, a maioria dos membros não apoia a petição, “mas não acredita que ela deva ser retirada do ar”.

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