FLAVIO TAVARES
Tecnologia e parceria ajudam a combater a criminalidade em Belo Horizonte
Rodrigo Berdan acredita que interação é principal caminho contra o crime

Por anos escondidos atrás de muros altos e protegidos por cercas elétricas, moradores de bairros nobres de Belo Horizonte deixam ações individuais de proteção de lado e criam, juntos, novas formas de se resguardar. De aplicativos para celular a modernos aparelhos radiocomunicadores, parte da população tem conseguido barrar a ação de bandidos em algumas regiões. A estratégia é acompanhada de perto pela Polícia Militar, que apoia as iniciativas.
Na rua Comendador Viana, no bairro Mangabeiras, região Centro-Sul da capital, aplicativos como o whatsapp deixaram de ser meros meios de conversa. Desde que 20 famílias que vivem no local criaram um grupo no software, há cerca de seis meses, o programa passou a ajudar a prevenir e combater a violência. “Percebemos que pouco adianta cada um se trancar entre quatro paredes. A segurança é maior quando nós abrimos as portas para os vizinhos”, afirma Rodrigo Bedran, presidente da Associação de Moradores da Rua Comendador Viana. Por meio de mensagens online, todos tomam conhecimento, por exemplo, sobre um carro suspeito que ronda a região, afirma ele.
A grande vantagem da iniciativa, segundo o major Olímpio Garcia, subcomandante do 22º Batalhão, é que o serviço também está integrado a um celular da Polícia Militar, que atua imediatamente quando necessário. “O envolvimento comunitário é fundamental para reduzir os índices de ocorrências. Percebemos que a tecnologia é muito efetiva para convocar a população a interagir com a PM. Juntos, podemos buscar uma solução”.
Com bons resultados, o modelo já foi levado para outros bairros, como Gutierrez e Anchieta.
Tecnologia e parceria ajudam a combater a criminalidade em Belo Horizonte


Rádios
Foi também por meio da tecnologia que os moradores do bairro de Lourdes viram a média mensal de furtos e assaltos cair de 30 para apenas três, em menos de dez anos, conta Jeferson Rios, presidente da associação que representa a comunidade.
Rádios, que funcionam na mesma frequência dos aparelhos da polícia, foram distribuídos a 60 porteiros de condomínios e estabelecimentos comerciais da região. Atentos ao movimento das ruas, eles conseguem ver se há alguém em atitude suspeita.
“A informação é repassada para todos. Enquanto a pessoa estiver no bairro, estará sendo monitorada pelos porteiros espalhados por diversas ruas”. Os militares, que também tomam conhecimento da situação, agem rapidamente quando são acionados.
“O último assalto a prédio no Lourdes aconteceu há três anos. Antes de os bandidos saírem do edifício, a polícia já tinha chegado”, comemora Jeferson, que já ajudou a implementar o sistema em bairros vizinhos, como o Cidade Jardim e Santo Agostinho.

Mesmo irregulares, guaritas nas ruas ainda são utilizadas
Guaritas particulares instaladas nas calçadas de Belo Horizonte também são bastante utilizadas por moradores que tentam se proteger da violência por conta própria. No entanto, além de proibidas pelo Código de Posturas da capital, as cabines com seguranças particulares também contrariam o Código Penal Brasileiro.
Quando a construção é identificada, o infrator é notificado e tem prazo de 30 dias para corrigir o problema, segundo a Secretaria Municipal de Serviços Urbanos. Ele ainda está sujeito a multa de R$ 4.031,26.
Mas basta dar uma volta em bairros como Belvedere, na região Centro-Sul da capital, ou Bandeirantes, na Pampulha, para verificar que a proibição não é suficiente para dar um fim às irregularidades. Ao contrário, a demanda pelo serviço é crescente, segundo Romualdo Alves Ribeiro, presidente do Sindicato dos Vigilantes de Minas Gerais.
“Nem sempre eles estarão dentro da guarita. A estrutura deixou de ser utilizada para fugir da fiscalização”, diz. Hoje, ele afirma que há 35 mil vigilantes habilitados em exercício no Estado e estima que o dobro – cerca de 70 mil – trabalhem na clandestinidade. Pelo artigo 328 do Código Penal, esses profissionais podem ser acusados de usurpação da função pública, informou Romualdo.

Liminar
Embora o serviço seja irregular, moradores da rua Carrara, no bairro Bandeirantes, na Pampulha, conseguiram autorização da Justiça, em 2008, para manter o trabalho de vigilantes que monitoram o quarteirão há mais de duas décadas. “São oito casas, passo o dia rondando a rua. Em todo esse tempo, nenhum assalto foi registrado”, afirma Manoel Chaves, o mais antigo vigilante do local.