sábado, 24 de janeiro de 2015

O cheiro da corrupção


Manoel Hygino
Manoel Hygino
mhygino@hojeemdia.com.br

24/01/2015
Em termos de corrupção, nada mais pode assustar o cidadão deste país. Com o mensalão, poder-se-ia supor que se alcançara o ápice das falcatruas em âmbito político. Nada disso. Muito mais veio à frente, enquanto o ministro Joaquim Barbosa, relator da AP 470 e presidente do STF, se viu considerado persona non grata, e efetivamente o era para os que cuspiram no prato em que comeram.

Ser honesto no país se tornou afrontoso. É se erguer contra os crimes que se cometem contra o patrimônio público, contra o erário, contra o cidadão, mantenedor das instituições. Ao deixar o Supremo, o mineiro de Paracatu quase sofreu impedimento de exercer a advocacia, por iniciativa da sua própria corporação.

Depois, surgiu o petrolão, uma novela sem fim previsto, tal a envergadura do assalto à maior empresa do país, que ajudamos a fundar há décadas. Tornada vulnerável à voracidade de maus brasileiros à frente dos negócios, não a honraram. Pelo contrário.

Quantos são os casos de corrupção? Quantos se viram envolvidos nos negócios escusos e desonestos? Quantas investigações se realizaram ou são ora realizadas? Quantos pagaram pelos atos de improbidade? Quantas demissões se fizeram em cargos na administração ou quantos ressarciram os danos? Quantos foram para a cadeia?

A verdade nua e crua é diferente. O petrolão é um crime de lesa-pátria. Mas, há também os de menor monta, os dos pequenos gatunos, os das instâncias inferiores da administração, inclusive municipal. As apurações do Ministério Público em Minas, no que tange à farra em prefeituras do interior, apontam dezenas de pessoas comprometidas em abusos e muitos milhões desviados de seus objetivos essenciais.

Até quando o cidadão digno e trabalhador terá de esforçar-se e sacrificar-se para manter a máquina ineficiente e onerosa, sem nela encontrar resposta a suas necessidades, sobretudo no caso da saúde, da segurança e da educação? A ineficiência no serviço público é motivo de chacota, desespero e revolta.

Enquanto isso, milhões são gastos em despesas desnecessárias, viagens supostamente a trabalho, mesmo ao exterior, como já apurado e comprovado. Todos os meios são utilizados para mascarar ou camuflar dispêndios, para os quais se conta também com ajuda eficiente dos cartões corporativos.

O mensalão e o petrolão são espelho de uma nação que despreza o que outrora foi bom e paradigma. E o cidadão pratica a lição do “cada um por si e Deus por todos”, por não confiar na autoridade, mesmo aquela que ajudou a eleger. Das licitações para obras públicas, se pode ter um desenho na historieta contada pelo advogado, poeta e professor José Luiz Rodrigues.

Ele descreve: Um prefeito do interior deste Brasil solicitou orçamento a um engenheiro japonês para uma obra no seu município. O japonês disse que faria a obra por 3 milhões de reais. Fez a mesma solicitação a um engenheiro americano. Este disse que faria o serviço por 6 milhões de reais.

Não satisfeito, o prefeito procurou um engenheiro brasileiro. O doutor disse que o seu valor seria de 9 milhões de reais. O prefeito considerou absurdo o orçamento do patrício. Então o conterrâneo explicou: – Dos 9 milhões eu tiro 3 milhões para você, 3 milhões para mim, e fazemos o serviço com o japonês.

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