quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Manual para entender o ataque terrorista em Paris

GUGA CHACRA
De Beirute a Nova York
Os principais responsáveis pelo atentado terrorista hoje em Paris que matou 12 pessoas são, primeiro, os dois atiradores e seus cúmplices, se estes existirem; em segundo lugar, a organização à qual pertencem, se é que eles pertencem a algum grupo; em terceiro lugar, a ideologia que seguem. Nenhuma religião é responsável pelas mortes. E nenhum cartoon, por mais racista que seja, justifica o ataque.
E o que sabemos até agora? Sabemos que dois indivíduos invadiram um jornal satírico francês e mataram 12 pessoas. Os atiradores teriam gritado Allahu Akbar antes de fugirem. Ainda não foram capturados. A publicação alvejada publicou no passado cartoons classificados por muitos como islamofóbicos (anti-islã) que foram criticados ao redor do mundo.
A França tem leis que coíbem o antissemitismo, mas não a islamofobia. É diferente dos EUA, onde a primeira emenda da Constituição garante a liberdade de expressão e a pessoa pode ser antissemita e islamofóbica desde que não pregue a violência. Mas, voltando ao atentado, temos as seguintes perguntas
Quem são os terroristas?
Não sabemos ainda. Vídeos mostram dois homens mascarados.
Qual a organização responsável?
Não sabemos ainda. Sequer sabemos se há uma organização envolvida. Pode ter sido um ataque de lobos solitários, como em Sydney. Ou pode não ter sido. O ISIS (Grupo Estado Islâmico ou Daesh) ameaçou recentemente atacar  a Charlie Hebdo. Outros grupos terroristas e indivíduos fizeram o mesmo no passado
Qual ideologia estaria por trás?
Neste caso, provavelmente os atiradores seguem uma versão deturpada do islamismo sunita – o mesmo da Al Qaeda e do ISIS. Noto que os principais grupos islâmicos da França e do mundo condenaram o atentado terrorista de hoje. E associar genericamente o ataque de hoje aos muçulmanos é um erro. Lembro que os dois atiradores possivelmente são muçulmanos e franceses. Mas Zidane, Ribery, Nasri e Benzema (literalmente, quatro dos melhores jogadores da história da França) também são muçulmanos e franceses. Você pode classificar muçulmanos franceses como terroristas ou como craques de futebol melhores do que os brasileiros. Mas ambas classificações seriam erradas. Cada indivíduo é de um jeito. O certo é que ninguém merece morrer por uma piada, mesmo se for racista. Basta não dar risada ou, melhor ainda, reagir com bom humor.
Guga Chacra, comentarista de política internacional do Estadão e do programa Globo News Em Pauta em Nova York, é mestre em Relações Internacionais pela Universidade Columbia. Já foi correspondente do jornal O Estado de S. Paulo no Oriente Médio e em NY. No passado, trabalhou como correspondente da Folha em Buenos Aires

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