terça-feira, 6 de janeiro de 2015

Cortes de benefícios devem trazer economia menor e imposto terá de subir, diz economista da Quantitas

 Angelo Pavini | Arena do Pavini

desemprego
A economia prevista pelo governo, de R$ 18 bilhões no ano que vem com as medidas de corte de benefícios sociais anunciadas no fim do ano, é exagerada, afirma Gustav Gorski, economista-chefe da gestora Quantitas Asset Management. Segundo Gorski, pelas estimativas do governo, 90% da redução de despesas, ou R$ 16 bilhões, virá apenas do seguro-desemprego, principal alvo dos cortes. O gasto com seguro-desemprego saiu de R$ 49,5 bilhões nos 12 meses encerrados em novembro de 2013 para R$ 53,5 bilhões neste ano.
Para chegar aos R$ 16 bilhões de corte estimados no anúncio, a despesa de seguro-desemprego teria de cair 30%, o que é muito difícil mesmo imaginando todas as fraudes com o benefício. Além disso, haverá aumento no desemprego neste ano, especialmente na construção civil, o que vai pressionar para cima a despesa.
“Por mais que a pessoa tenha de estar desempregada por 18 meses, o número de seguro-desemprego vai continuar crescendo”, diz Gorski que admite que são medidas positivas para eliminar as fraudes. “Mas chegar no número que estão falando é difícil”, completa.
Mais imposto à vista
Assim, para chegar no superávit primário que o ministro Joaquim Levy prometeu, de 1,2% do PIB, o governo terá de aumentar significativamente os impostos, como a Contribuição de Intervenção sobre o Domínio Econômico (Cide). “Por mais que as medidas já anunciadas sejam no sentido certo, não vão tapar o buraco cavado especialmente no último ano”, alerta Gorski.
Ele observa ainda que, apesar de as declarações da equipe econômica estarem na direção correta, as indicações para os demais ministérios do novo mandato são piores, com nomes que mostraram pouco zelo pelo dinheiro público. “Disciplina e continuidade têm se mostrado coisas difíceis no governo do PT, e no ministério atual, temos um só contra 30”, afirma o economista, lembrando que outros setores da economia que foram beneficiados vão pressionar após perder a ajuda.
Primeiro trimestre difícil
O primeiro trimestre deverá ser bastante difícil, afirma Gorski, com queda no PIB, na taxa de investimento e com o consumo parado. “Empresários ligados ao setor de metal mecânica estão prevendo que os cortes de investimento e pessoal serão grandes”, alerta o economista. “Se as coisas não melhorarem no fim do primeiro trimestre, haverá mais cortes.”
Ele espera alguma recuperação no segundo semestre e admite que a expectativa de 2015 “está tão ruim que talvez no fim do ano o resultado surpreenda positivamente”. “Temos o temor de estarmos muito pessimistas, mas do jeito que a coisa anda, estamos só pessimistas mesmo”, diz.
Inflação no colo do BC
Gorski afirma que é preciso olhar a atividade econômica, e como vai se comportar o PT com aumento do desemprego. A expectativa é que ocorra o de sempre, os cofres serão abertos e mais benesses localizadas serão distribuídas. Com isso, o combate à inflação acabará caindo no colo do Banco Central, que teria de subir mais os juros para compensar a falta do aperto fiscal. O mercado futuro estima juros de 13% ao ano no fim de 2015, com mais dois ajustes de 0,5 ponto e mais um de 0,25, uma taxa bastante alta para uma economia tão fraca.
Inflação maior para os mais pobres
A inflação também será bastante pressionada no primeiro trimestre, corroendo bastante o poder aquisitivo das pessoas mais pobres com ajustes de 10% na energia e 12% a 15% em transportes. “E vamos torcer para que não tenha estiagem para complicar mais a energia”, diz. Outro reajuste deve vir do imposto sobre a gasolina, da Cide, que deve ter impacto de R$ 0,15 a R$ 0,20 por litro. “Com a Petrobras em frangalhos, a conta irá para o consumidor”, afirma Gorski. Somente a Cide teria um impacto de 0,2 ponto no IPCA.

No dólar, o déficit de contas correntes do país bateu 4% do PIB, e mostra que o país depende de financiamento externo para fechar suas contas. “O país e as famílias vão precisar parar de se endividar e começar a poupar, e isso significa ou colocar o dólar para cima ou jogar a economia para baixo, e
devemos ter um pouco de cada”, afirma. Pelo custo político, é mais provável que o ajuste ocorra mais no dólar, o que pode levar a moeda para R$ 3,00,
impactando quem precisa de produtos importados.  Há ainda o ajuste dos juros nos EUA, que deve atingir mais os países mais desajustados como o Brasil.
Fonte: http://www.arenadopavini.com.br/artigos/politica-economica/cortes-de-beneficios-devem-ter-impacto-menor-que-o-esperado-diz-economista-da-quantitas

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