terça-feira, 13 de janeiro de 2015

'Caminhei 5 km sobre corpos', diz testemunha de ataque do Boko Haram

Nigéria

Veja.com

Moradores de Baga relatam massacre e destruição promovidos por grupo jihadista em cidade no nordeste da Nigéria

Foto de abril de 2013 mostra crianças perto de vila incendiada em Baga, no Estado de Borno, nordeste da Nigéria, depois de confrontos entre membros de força-tarefa conjunta e terroristas do Boko Haram, que fizeram novo ataque à localidade na última semana
Foto de abril de 2013 mostra crianças perto de vila incendiada em Baga, no Estado de Borno, nordeste da Nigéria, depois de confrontos entre membros de força-tarefa conjunta e terroristas do Boko Haram, que fizeram novo ataque à localidade na última semana (AFP/AFP)
ataque do grupo terrorista Boko Haram a Baga, no nordeste da Nigéria, deixou corpos espalhados por todos os lugares, revelou à agência de notícias France-Presse um morador que conseguiu fugir para o Chad e nesta segunda-feira voltou à cidade. Borye Kime, um pescador de 40 anos, descreveu um cenário aterrorizante: "Há corpos em todas as partes e a cidade cheira a decomposição".
No dia 3 de janeiro, o Boko Haram entrou em Baga e tomou o quartel da cidade, iniciando uma onda de terror que se estendeu por dezesseis localidades no Estado de Borno. "A princípio, tentei voltar à cidade pelo norte, mas vi luzes e escutei gente falando, e percebi que era uma barricada do Boko Haram", relatou Kime. "Voltei pelo mercado de gado e encontrei montes de corpos espalhados por todas as partes. Está claro que era o cenário de um massacre". Segundo ele, Baga está em ruínas após ter sido incendiada.
Outro morador local, Yanaye Grema, revelou ter ficado escondido durante três dias enquanto os jihadistas saqueavam Baga, antes de fugir na noite de quinta-feira. "Por cinco quilômetros, caminhei sobre corpos".
Os jihadistas foram de casa em casa tirando os jovens em idade de combate e os executando na rua, revelaram várias testemunhas à ONG Anistia Internacional. "Com base em testemunhas, é possível afirmar que centenas de civis morreram neste ataque, talvez mais, e milhares tiveram que fugir", disse um membro da Anistia na Nigéria, Daniel Eyre.
O governo nigeriano declarou que o Exército está "perseguindo ativamente" os terroristas em uma operação para retomar Baga, mas Kime afirmou "não ter visto qualquer soldado" na cidade. Outros moradores de Baga relataram que as tropas debandaram quando o grupo atacou, deixando a defesa da cidade com as milícias civis.
"As milícias lutaram durante algum tempo, mas recuaram porque não conseguiram enfrentar o armamento pesado do Boko Haram", explicou Mala Kyari Shuwaram, um chefe local que fugiu para Dubuwa, no Chad. "A resistência da milícia deu tempo para que muita gente fugisse pegando canoas no Lago Chad. Não fosse isso, estaríamos todos mortos. Eu mesmo ajudei quatro soldados que fugiam a subir nas canoas (...). Jogaram suas armas e escaparam conosco".
Número oficial – Nesta segunda-feira, o Exército nigeriano informou que pelo menos 150 pessoas foram mortas em confrontos com os terroristas. Foi uma rara divulgação de um número oficial de vítimas poucas semanas antes das eleições presidenciais marcadas para 14 de fevereiro que terão a insegurança como foco.
O anúncio foi feito pelo porta-voz da Defesa, major-general Chris Olukolade, em resposta a relatos de que cerca de 2.000 pessoas foram mortas pelo grupo. "Terríveis atrocidades foram cometidas contra nigerianos inocentes em Baga pelos terroristas furiosos que atacaram e têm operado na cidade desde 3 de janeiro", disse Olukolade em uma entrevista coletiva.
"De todas as evidências disponíveis, o número de pessoas que perderam suas vidas durante o ataque, até agora, não ultrapassou cerca de 150, incluindo os terroristas que foram mortos durante a batalha com as tropas", declarou. O Exército tem o hábito de subestimar o número de mortos, enquanto os políticos locais tendem a exagerá-los.
(Com agências France-Presse e Reuters)

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