quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Sem mandado e sem comando


Luiz Fernando Rocha
Luiz Fernando Rocha
lrocha@hojeemdia.com.br
 

11/12/2014 - Hoje em Dia

O episódio da invasão de dois policiais civis ao estúdio da rádio Itatiaia tem movimentado as redes sociais desde a última terça-feira. Foram feitos todos os tipos de juízo de valor e as opiniões a respeito são acaloradas, divergentes e plurais, como têm se caracterizado o interessantíssimo fórum de debates que se tornou o mundo virtual.
Veja imagens do circuito interno da rádio (a invasão acontece aos 4min10):

 
De cara, e deixando temporariamente de lado todos os motivos, mandatos, ordens e justificativas possíveis, pessoalmente expresso meu repúdio à forma como a ação foi desencadeada. Os policiais em questão se mostraram truculentos e autoritários. Trataram de forma desrespeitosa pessoas de bem que estavam em seu ambiente de trabalho. Havia um programa de rádio no ar, com microfones ligados e audiência que bate, se não me engano, a casa de 280 mil pessoas por todo o país.

Desrespeitaram o princípio que resguarda a propriedade privada, quando adentraram uma empresa particular sem convite e sem apresentar mandado de busca e apreensão. Desrespeitaram uma instituição da imprensa tradicionalmente próxima às forças policiais, até mesmo pela natureza do produto jornalístico que veicula. E desrespeitaram a própria Polícia, ao mostrar descaso com os preceitos legais que guardam a ação de cada ente da sociedade civil. O apresentador Eduardo Costa levantou, ao vivo, uma questão que precisa urgentemente de resposta e que já foi abordada aqui mesmo nesta coluna. Estariam as instituições policiais de Minas padecendo por falta de comando?
Ouça o áudio do programa Chamada Geral:


Desde fevereiro de 2012, quando estouraram denúncias de manipulação e direcionamento nas confecções de Boletins de Ocorrência e, consequentemente, nas estatísticas da violência em nosso estado, a sociedade olha com devido grau de desconfiança números que atestam queda na incidência de homicídios e crimes violentos. As estatísticas do setor de Segurança Pública em Minas nos dão constantemente a impressão de estarem em discordância com o sentimento do cidadão, que precisa andar um ou dois quarteirões do ponto de ônibus até a porta de casa depois de 21h e faz isso apavorado, pela sensação permanente que olhos mal intencionados vigiam suas costas e sua rotina. Enquanto nossos muros continuam ganhando tijolos, as ruas seguem perdendo viaturas. E a polícia do Estado que está na lanterna do ranking de solução de homicídios opta por dar espetáculo e fazer pirotecnia diante dos microfones da maior audiência de Minas. É preocupante.
Claro, não vale generalizar. É evidente que a maioria dos membros das duas corporações, Civil e Militar, merecem respeito pelo trabalho que tentam fazer apesar dos constantes contingenciamentos de investimentos financeiros e de pessoal. São pessoas “do bem” e isso provavelmente deve incluir os dois policiais que protagonizaram a pantomima grotesca que circula em imagens nas redes sociais.
Mas também é evidente que faltam respostas às questões que se colocaram desde a tarde da última terça-feira. Nem durante a ditadura desrespeitaram as normas e instituições da sociedade civil de forma tão escancarada. O mandado de prisão do entrevistado, que naquele momento fazia críticas exatamente a uma ação policial, jamais foi mostrado. Se ele deve à Justiça, merece ser preso e mofar na cadeia. Não há dúvidas quanto a isso. Mas me preocupa se amanhã, por um motivo qualquer, não será minha empresa ou minha casa, ou a sua, a ser invadida por policiais sem mandado e sem comando. 

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