domingo, 7 de dezembro de 2014

PT mudou de rumo em 30 anos

CORRUPÇÃO

Denúncias de corrupção, como as do mensalão e da Lava Jato, igualam legenda às outras


PUBLICADO EM 07/12/14 - 04h00
O PT que reelegeu a presidente Dilma Rousseff em outubro deste ano é outro, com formação e até bandeiras distintas daquele Partido dos Trabalhadores surgido na década de 80 com a pretensão de transformar a política brasileira. As mudanças, adotadas principalmente após o partido se tornar governo, geraram reflexos. Depois de a sigla colher os frutos de se manter no poder central por mais de 12 anos, o atual momento não é tão positivo para os petistas, mesmo após o êxito nas urnas. As consequências negativas dos “erros” estão sendo sentidas agora, quando a sigla enfrenta novas denúncias e manifestações antipetistas pelo país.

Se a população tem feito críticas à administração petista – movimento que cresceu depois das denúncias do mensalão e da corrupção na Petrobras –, fundadores da legenda, que acabaram se desfiliando após as falhas cometidas, não evitam mais os ataques. E mesmo quem continua na sigla já admite a necessidade de mudar.
Desde a fundação da legenda, em 1980, alguns idealizadores do PT se desfiliaram e decidiram se afastar da política partidária, enquanto outros fundaram legendas nas quais viriam a ser candidatos. Apesar de alguns nomes, como o do ex-presidente Lula, continuarem no comando partidário, fundadores tidos como mais “radicais” e defensores de políticas mais à esquerda e próximas do “socialismo” optaram por deixar o PT (veja infográfico).
Esse fato, segundo analistas, é o principal responsável pela mudança de rumo. “O quadro do partido não é possível de se reverter. Se não se propõe a superar o capitalismo, como pretendia inicialmente, é porque não é socialista. Isso o torna igual a outras siglas”, avalia o cientista político da Unesp Antonio Carlos Mazzeo.
Um dos exemplos de políticos que optaram por se desfiliar é o candidato derrotado à Presidência Eduardo Jorge (PV). “Saí basicamente porque acho que o PT ainda tem um déficit de aceitação da democracia. Continua com um pensamento hegemonista de controle da sociedade, herdado da ditadura”, diz. Só na última eleição, a presidente Dilma enfrentou seis ex-integrantes do PT, um deles foi Eduardo Jorge. Todos participaram da criação do partido. A própria presidente não faz parte do grupo de fundadores, fato representativo de outra característica assumida pelo PT: a de optar pelo “novo”.
Crítica semelhante é feita pelo senador Cristovam Buarque (PDT). Ele diz que sua saída ocorreu após o partido “perder o vigor transformador”. “Dizia que o PT ia levar dez anos para retomar esse vigor. Agora já acho que vai levar muito mais tempo. O PT corre o risco de se tornar um partido inexpressivo. Enquanto continuar como governo, não há chance de recuperar sua utopia”, acredita.
Coerência
CartaA presidente Dilma recebeu na semana passada manifesto de intelectuais apoiadores do PT que pediam mais “coerência” do governo petista.
Lulismo
O protagonismo alcançado pelo ex-presidente Lula e a liderança que desempenha à frente do PT desde a sua fundação são apontados por ex-integrantes do partido como um “grave” problema, que, inclusive, acabou gerando rusgas internas. Em entrevista recente, o sociólogo Chico de Oliveira disse que “Lula é mais esperto do que pode-se pensar”.
Manifesto
Um texto elaborado pelas atuais lideranças do PT e apresentado na semana passada em encontro da executiva em Fortaleza pede um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff melhor do que o primeiro. O documento ainda defende políticas mais à esquerda e ações imediatas que privilegiem o recado dado pela sociedade nas manifestações populares
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