sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Psicólogos ganharam US$ 81 mi para criar métodos de tortura

VIOLÊNCIA NA CIA

James Mitchell e Bruce Jessen treinaram soldados para mentir durante a Guerra Fria

Crueldade. Dupla de psicólogos recebeu para criar métodos de tortura contra prisioneiros da CIA
PUBLICADO EM 12/12/14 - 04h00
Washington, EUA. A Agência Central de Inteligência (CIA, em inglês) dos Estados Unidos contou com a participação de dois psicólogos para desenvolver e implementar o programa de torturas utilizado para obter informações de prisioneiros após os atentados de 11 de setembro de 2001. Os métodos foram revelados em um relatório divulgado pelo Senado norte-americano na última terça-feira e que tem provocado uma onda de reações contrárias em todo o mundo.
 
Segundo o jornal “The New York Times”, James Mitchell e Bruce Jessen, que são psicólogos militares reformados, aprimoraram as “técnicas coercitivas” usadas pela CIA, que incluíam alimentação retal forçada, privação de sono, simulação de afogamento, banhos com água muito gelada, agressões físicas e ameaças verbais.
O preço pago pela CIA para eles se tornarem consultores de tortura foi de US$ 81 milhões, saídos dos bolsos do contribuinte norte-americano. Eles usavam os pseudônimos Dr. Grayson Swigert e Dr. Hammond Dunbar e tinham o objetivo de implantar um projeto de “técnicas avançadas de interrogatório”, que duraria sete anos.
Documentos da própria CIA revelam que o programa foi criado em 2002, quando a agência tinha Abu Zubaydah sob custódia. Saudita, preso no Paquistão, suspeito de ser um tenente da Al Qaeda, ele teria sido levado supostamente para a Tailândia. Lá, uma prisão tornou-se o laboratório experimental onde os psicólogos aperfeiçoaram as técnicas que aprenderam no programa de Sobrevivência, Evasão, Resistência e Fuga (Sere, em inglês) da Força Aérea.
Guerra Fria. A dupla ajudou nos treinamentos do Sere na época da Guerra Fria, preparando os soldados para o caso de eles serem capturados por inimigos comunistas. Os métodos utilizados incluíam a produção de confissões falsas. Mas o Sere nunca havia sido projetado para uso em interrogatórios norte-americanos.
Nenhum dos dois profissionais havia realizado um único interrogatório real. Eles tampouco tinham conhecimentos sobre a Al Qaeda. Mas Mitchell era pesquisador de literatura acadêmica sobre o “desamparo que torna indivíduos passivos e deprimidos em resposta a eventos adversos ou incontroláveis”, segundo o relatório. Esse “desamparo”, dizia Mitchell, poderia “encorajar um detento a cooperar”.
Ele sugeriu, então, 12 técnicas do Sere que poderiam ser úteis para a CIA: “Apertar para receber atenção, construção de muros, segurar o rosto, tapa no rosto, confinamento apertado, obrigação de ficar em pé, ou em posições desconfortáveis, privação de sono, simulação de afogamento, uso de fraldas, uso de insetos e sepultamento simulado”.
Após a detenção de Zubaydah, o programa, embasado juridicamente pelo Departamento de Justiça dos EUA, foi ampliado para prisões secretas na Polônia, Romênia, Lituânia e outros países, “parceiros” referidos no relatório.
Passado
ContradiçãoEm relatório enviado ao Congresso em 1989, a CIA diz que “as técnicas físicas ou psicológicas desumanas não produzem inteligência e, provavelmente, resultarão em respostas falsas”.
Vice de George W. Bush diz que ex-presidente conhecia método

WASHINGTON.
 O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Dick Cheney afirmou nesta quinta em entrevista a uma emissora de televisão norte-americana que o ex-presidente George W. Bush foi “plenamente informado” sobre as técnicas de interrogatório da CIA. De acordo com Cheney, Bush “sabia de tudo de que precisava e queria saber” sobre o programa, condenado em um relatório da Comissão de Inteligência do Senado norte-americano.

Em entrevista à “Fox News”, o ex-vice disse ainda que o documento, divulgado na última terça-feira, está “cheio de besteira”.

“Ele (Bush) sabia das técnicas. Não houve esforço da minha parte para esconder isso dele” afirmou Cheney que completou: “Ele foi plenamente informado”.

Durante a entrevista, Dick Cheney classificou o relatório que revelou a tortura de prisioneiros como “profundamente falho” e um “pedaço terrível de trabalho”, embora tenha admitido que não tinha lido todo o documento.

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