Marcello Casal Jr/ABR
Foram feitas seis operações em três anos para inibir fraudes contra a Previdência Social
Foram feitas seis operações em três anos para inibir fraudes contra a Previdência Social

Em ofensiva contra fraudadores da Previdência Social, a Polícia Federal (PF) em Minas descobriu um rombo de R$ 33 milhões nos cofres da União entre 2012 e 2014. Seis operações foram realizadas nesse período. Mas o prejuízo pode ser bem superior. 
 
Somente na PF em Belo Horizonte existem hoje mil inquéritos instaurados para investigar esse tipo de crime. Político, funcionário público, contador, empresários, profissional liberal e um grupo de ciganos estão entre os envolvidos. 
 
As ações da polícia se concentraram em Belo Horizonte (duas vezes) e nos municípios de Caratinga (Vale do Rio Doce), Campo Belo (Oeste de Minas), Teófilo Otoni (Vale do Mucuri) e Monte Azul (Norte de Minas). 
 
Curiosamente, o desvio mais vultoso foi praticado por uma velha golpista. Agindo sozinha, a ex-estagiária do INSS, L.V.P., de 44 anos, é suspeita de ter dado um prejuízo de R$ 20 milhões nos últimos dez anos. Psicóloga de formação, está na mira dos federais desde 2004. Quinze inquéritos contra ela já foram instaurados. 
 
Mesmo com o cerco, não abandonou a carreira criminosa. Investigadores atribuem a audácia à impunidade, pois a pena mínima prevista para esses casos é de um ano mais um terço no caso de réu primário.
 
Condenada em duas ações penais por estelionato, L.V.P. nunca cumpriu pena atrás das grades. Beneficiada por punições alternativas, continuou agindo até o último dia 21 de novembro. Nessa data, foi presa em uma das duas residência dela, na Avenida Augusto de Lima, no Centro de BH. Novamente. a acusação foi de estelionato qualificado contra a Previdência. Como ela é reincidente, a situação dela pode se complicar com a nova prisão.
 
De acordo com os investigadores, certidões de tempo de serviço eram forjadas em série pela mulher. Suspeita-se que ela adquiriu experiência quando ocupava o cargo de estagiária do INSS da capital nos anos 1990. A documentação adulterada oferecida por ela era peça chave nos processos de obtenção de aposentadorias. Nem mesmo os federais possuem uma estimativa do número de benefícios fraudados pela estelionatária. Estimam centenas deles. O próximo passo da investigação é identificar as pessoas que se beneficiaram dos serviços dela. 
 
Na lista de suspeitos constam servidores de órgãos públicos, entre eles do Ministério de Minas e Energia, e trabalhadores da iniciativa privada. Computadores e documentos apreendidos na casa dela na Avenida Augusto de Lima e em um apartamento no bairro Gutierrez estão sendo periciados. Em troca das aposentadorias forjadas, a ex-estagiária do INSS, presa preventivamente na Penitenciária Estevão Pinto, exigia valores de R$ 1.500 a R$ 2 mil, além da primeira parcela da aposentadoria.
 
Político e grupo de ciganos entre os envolvidos
 
Entre os investigados pela Polícia Federal está o ex-presidente da Câmara Municipal de Campo Belo, Hélio Donizetti Mendes (PSB). Em junho do ano passado, ele foi apontado pela PF como líder de um grupo criminoso responsável pelo desfalque de R$ 1 milhão na Previdência da cidade. 
 
De acordo com as investigações, Mendes utilizava empresas de fachada com o intuito de oferecer empregos fictícios. Dessa forma, conseguiu obter aposentadorias e auxílios-doença. 
 
Em busca e apreensão na casa do parlamentar, os policiais apreenderam cerca de 130 carteiras de trabalho falsificadas que ele tentou ocultar no fundo do quintal. 
 
Após análise nos computadores apreendidos, foi possível descobrir que Mendes possuía um programa exclusivo do INSS para operar. Suspeito de estelionato, falsidade ideológica e inserção de documentos falsos, o político não quis falar sobre o assunto. “Só falo desse assunto pessoalmente”, despistou Mendes.
 
Quadrilha 
 
Em abril deste ano, a Polícia Federal em Governador Valadares desbaratou uma quadrilha formada por um grupo de ciganos de uma mesma família. Somente a mãe do líder do bando recebia 14 benefícios de amparo ao idoso por meio da Lei Orgânica de Assistência Social (Loas).
 
Os suspeitos obtinham certidões de nascimento tardias junto aos cartórios de registro civil para posteriormente fazer carteiras de identidade e de trabalho, CPFs e abrir contas bancárias. Um total de R$ 3 milhões foram desviados do INSS. Os bandidos ostentavam o lucro comprando caminhonetes de luxo importadas.
 
Liderança de Monte Azul sob suspeita
 
Em Monte Azul, no Norte de Minas, as principais lideranças da cidade estão envolvidas em golpe contra o INSS. Com documentação forjada, a quadrilha conseguia aposentadorias para pessoas que nunca foram trabalhadores rurais. 
 
A documentação era confeccionada no Sindicato dos Trabalhadores Rurais da cidade, instituição dominada por petistas. O vice-prefeito Toninho da Barraca (PT) e os vereadores Geraldo Ladim (PT) e Marineide do Sindicato (PT) são os principais suspeitos. 
 
Além da fraude no INSS, foi descoberto um esquema de compra de votos. Os deputados Paulo Guedes e Reginaldo Lopes, ambos do PT, foram beneficiados pela fraude eleitoral.