sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

Pizzaria de SP faz delivery com drone e entra na mira de Anac e FAB

12/12/2014 11h19 - Atualizado em 12/12/2014 11h39

Em teste, drone entregou pizza de pepperoni em cobertura de Santo André.

Donos do estabelecimento não pediram autorização para realizar sobrevoo.

Helton Simões GomesDo G1, em São Paulo

Distante até agora, a ideia de receber na janela de casa a entrega de pizzas trazidas por drones começa a se materializar para o brasileiro. Uma pizzaria de Santo André (SP) testou levar o prato até a casa de um cliente com um veículo aéreo não tripulado (vant). Como a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e a Força Aérea Brasileira (FAB) têm de autorizar sobrevoos como esse, o que não foi sequer solicitado, o caso será investigado, informaram os órgãos ao G1. Se o intuito do estabelecimento comercial for criar uma frota de drones que substitua os motoboys de carne e osso, terá antes que aguardar a regulação da Anac sobre o tema.
O teste de delivery ocorreu em outubro, mas a Vero Verde só liberou imagens do drone-motoboy nesta quinta-feira (11). Inspirado por experiências internacionais, como a da Amazon que prepara um sistema de entrega de produtos feito por drones para derrubar o prazo de espera para 30 minutos e da pizzaria Domino's, o teste brasileiro foi conduzido por um quadcóptero (quatro hélices) capaz de percorrer um raio de 1,5 quilômetros a 40 km/h.
O voo foi feito pelo bairro dos Jardins e filmado não só pela câmera acoplada ao drone-motoboy como também por um vant cinegrafista (Veja vídeo acima). O destino da entrega era uma cobertura nas imediações da pizzaria. O caminho de um lugar a outro durou cinco minutos, quase a metade do tempo caso o veículo escolhido fosse uma moto, estima Ernesto Júnior, sócio-proprietário da Vero. "É um pouco complicado. O vento é uma coisa que atrapalha bastante e o peso da pizza acaba influenciando bastante", disse ─Pepperoni foi o sabor escolhido. "Tem que ser uma mais leve."
Pizzaria de Santo André (SP) testa entrega com drones. (Foto: Reprodução/YouTube)Pizzaria de Santo André (SP) testa entrega com drones. (Foto: Reprodução/YouTube)
arte tipos de drone vale este vant (Foto: Arte G1)
Não leva refrigerante
Além de chamar a atenção de quem viu o aparelho viajando pelos céus de Santo André, o teste com o drone gerou piadas enciumadas entre os motoboys que trabalham na pizzaria. "Falaram que o drone não leva refrigerante", ri. Não levou também maquininhas de cartão de crédito ou moedas para o troco. Se tivesse de entrar em operação, essas questões deveriam ser consideradas, diz Rodrigo Caminiti, da agência digital WebSnap, responsável pela estratégia de colocar o aparelho no ar.
Não é somente com refrigerantes e formas de pagamento que os donos da pizzaria devem se preocupar. Anac e FAB prometem averiguar o caso e encaminhá-lo às autoridades competentes ou abrir investigação para punir a pizzaria em caso de irregularidade. "Nenhuma aeronave remotamente pilotada, seja ela de aplicação civil ou militar, poderá decolar sem a autorização do DECEA [órgão que legisla sobre o uso do espaço aéreo]", informou a Aeronáutica. "Para aeronaves não certificadas, é aplicado o Certificado de Autorização de Voo Experimental (CAVE), cuja análise, aprovação e emissão cabe à Anac."
"Como foi um ensaio de voo baixo, a gente não chegou a entrar em contato com a Anac", diz Caminiti. Por conta disso, a Aeronáutica vai denunciar o fato ao Ministério Público Federal. Pedirá a aplicação de penalidades previstas no Código Penal. Já a Anac informa que o assunto foi levado à área responsável, mas não tem como dizer se "a operação foi feita ilegalmente".
A agência ressalta que, "para que seja feito uso comercial e em áreas povoadas, o usuário deve aguardar a regulamentação que deve entrar em audiência pública em breve". E completa: "É importante ressaltar que a regulamentação sobre o uso de drones está sendo estudada no mundo inteiro, para que os normativos sejam preparados para atender a demanda atual, visando a segurança das operações".
A pizzaria Vero Verde, porém, não está sozinha nesse impasse diante de uma legislação ora restritiva ora por fazer. A empresa que a inspirou, a Amazon, começa a procurar outros paísespara testar seus drones, porque os EUA ainda não possuem lei que permita o voo dessas máquinas pelos céus. O Brasil é forte candidato a não estar entre os possíveis destinos.

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