Wesley Rodrigues/Hoje em Dia
Grupo DELP
Grupo DELP de fabricação de equipamentos industriais investe na compra de robôs

A receita utilizada pelo Partido dos Trabalhadores (PT) nos três mandatos em que esteve à frente do país para fazer o Brasil crescer já não serve mais. Se a presidente Dilma Rousseff (PT) quiser retomar o crescimento e continuar a implementar bandeiras sociais históricas de seu partido deve, urgentemente, adotar políticas para aumentar a produtividade. 
 
A constatação é de estudo do Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea), fundação pública federal vinculada à Secretaria de Assuntos Estratégicos da Presidência da República.
 
“O ciclo de crescimento e de redução da pobreza e da desigualdade que se observou na década de 2000 apoiou-se fortemente na expansão da demanda e não foi acompanhado por uma expansão correspondente dos níveis de investimento e de produtividade. O diagnóstico sobre os fatores que impulsionaram este ciclo e sobre suas limitações de longo prazo serviu de base para que se argumentasse que a sustentabilidade deste modelo requer, a partir de agora, a elevação dos níveis de produtividade da economia brasileira”, aponta o texto do livro “Brasil em desenvolvimento 2014: estado, planejamento e políticas públicas”, editado por Leonardo Monteiro Monasterio, Marcelo Côrtes Neri e Sergei Suarez Dillon Soares. A publicação foi lançada pelo Ipea no começo deste mês.
 
No primeiro capítulo, dedicado ao crescimento econômico e à produtividade, os pesquisadores afirmam que os motores da economia brasileira dos primeiros anos deste século dificilmente serão capazes de promover o crescimento econômico no futuro. No início dos anos 2000, o mercado internacional era altamente consumidor de commodities brasileiras e houve a expansão da demanda interna.
 
Mas o grande desafio é que o Brasil não consegue aumentar a sua produtividade em índices significativos. Na prática, ela é quase estagnada, ao contrário de países emergentes, como México e Índia, onde desde os anos 1990 há crescimentos significativos na produtividade (veja infografia).
 
De acordo com o Ipea, o fraco desempenho da produtividade é uma característica estrutural da economia brasileira desde o final dos anos 1970. Os estudos apontam que é fundamental reverter essa tendência para que “a economia brasileira possa retomar um ciclo de crescimento e inclusão social”.
 
O instituto reconhece, ainda, que há um consenso na sociedade brasileira de que é fundamental aumentar a produtividade, mas ainda não há consenso sobre como fazer isso.
 
“É claro que a produtividade está associada a uma série de fatores que envolvem as condições de infraestrutura, a qualificação da mão de obra, o capital físico (máquinas e equipamentos), a inovação, a estrutura produtiva, as condições de concorrência e regulação, a qualidade das instituições e uma série de outros aspectos. Contudo, a importância relativa destes aspectos nem sempre é consensual”, admitem os pesquisadores.
 
Compensação
 
Na opinião do Ipea, a melhoria das taxas de produtividade seria uma forma de compensar a dificuldade em aumentar a taxa de investimento, para que o país consiga uma sustentação no crescimento econômico.
 
No livro, os pesquisadores explicam que, recentemente, o crescimento da economia foi impulsionado pelo aumento da oferta de mão de obra sem aumento sustentado da oferta e do estoque de capital. Ou seja, há mais pessoas trabalhando, mas a produção e a circulação da riqueza não aumentou na mesma proporção.
 
Instituto propõe a criação de comissão nacional para melhorar eficiência da economia
 
Já que não há consenso na forma como o Brasil irá aumentar a eficiência de sua economia para competir no mercado global e melhorar índices de desenvolvimento humano, o Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas (Ipea) propõe a criação da Comissão Nacional de Produtividade.
 
“Essa comissão terá por finalidade contribuir para o desenvolvimento do Estado, de bem-estar social e ambiental, por intermédio da promoção da eficiência, da eficácia e da produtividade nas atividades governamentais e empresariais”, aponta o texto do livro “Brasil em desenvolvimento 2014: estado, planejamento e políticas públicas”.
 
A proposta do instituto é que a comissão seja composta por altos dirigentes de órgãos da administração pública federal, assim como representantes da sociedade civil. Para subsidiar os debates, o Ipea propõe que sejam utilizadas pesquisas econômicas aplicadas.
 
Como meta hipotética, os pesquisadores propuseram um incremento de 0,1 ponto percentual por ano na taxa de crescimento da produtividade por 15 anos ininterruptos. Com isso, o índice, que hoje é de 0,8 % ao ano – como a média verificada entre 1995 e 2009 –, alcançaria 2,3% ao ano, um aumento de 187,5%.
 
Carga tributária
 
O Ipea pesquisou junto às mais importantes empresas do país e constatou que para 83% delas a carga tributária trava o aumento da produtividade. Enfatizaram, ainda, que as regulamentações governamentais atrapalham o empresariado. “Procedimentos alfandegários e regulação do comércio exterior foram destacados por 53%, e regulação/legislação ambiental por 42% das empresas pesquisadas como fatores que afetam a competitividade”.
 
Empresário investe R$ 6 mi para aumentar a produção
 
Convivendo com dificuldades para aumentar a produção, há quatro meses o Grupo DELP, de engenharia mecânica e fabricação de equipamentos industriais, criou uma comissão interna para melhorar o desempenho. A primeira medida adotada foi a modernização de seu parque industrial, com o aporte de R$ 6 milhões em novos robôs de solda.
 
De acordo com o proprietário, Petrônio Machado Zica, o retorno deverá vir em 18 meses. Uma vez pago o investimento, o aumento da produtividade será incorporado ao dia a dia da empresa e, consequentemente, ao balanço financeiro.
 
Mas, para fora dos portões da empresa, Zica enfatiza que há muito a fazer para aumentar a produtividade do país. “O governo interfere demais, muda as leis todo dia. Não tem estabilidade. Além disso, precisamos de melhores estradas, precisamos melhorar a logística do país. Isso também influencia na baixa produtividade”, argumenta.
 
Outro fator que afeta negativamente o país é o câmbio. Para Zica, o dólar, que atualmente está na casa dos R$ 2,70, deveria estar em pelo menos R$ 3,50.